Com papelão, potes e afeto: oficina reúne mães e filhos autistas para criar brinquedos e fortalecer vínculos

Com caixas de papelão, panos, potes, garrafas de plástico, cotonetes e outros materiais, mães, pais e crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA) participaram, nesta sexta-feira (4), em Santana, da oficina “Confecção de Materiais Lúdicos para Autistas”, promovida pela Promotoria de Justiça de Defesa da Cidadania e da Saúde Pública de Santana, sob a coordenação da promotora de justiça Gisa Veiga. 

A atividade desenvolvida em parceria com a Associação Santanense de Autistas (Assande) faz parte da Ação ConheSER do Ministério Público do Amapá (MP-AP). 

Gisa Veiga explica que a “Ação ConheSER busca olhar para as necessidades dos pais e cuidadores de pessoas com TEA promovendo orientação jurídica e multiprofissional, escuta, rodas de conversa, ações de saúde entres outras atividades para promover o acolhimento, valorização e cuidados ao cuidador da pessoa com Transtorno do Espectro Autista”. 

Durante dois encontros realizados em maio deste ano, as participantes vivenciaram momentos de troca e aprendizado sobre como criar brinquedos e jogos sensoriais com materiais simples, acessíveis e reaproveitados. 

A proposta é que cada família pense nos estímulos específicos que deseja proporcionar à criança, produzindo, juntos, objetos que estimulem a atenção, o raciocínio e a interação.

“Essas atividades nos ajudam a entender melhor o que nossos filhos precisam. A gente aprende brincando com eles e isso fortalece nossa relação, dá mais segurança e confiança, a gente conhece outras mães com experiências distintas e compartilhamos nossas realidades”, contou Ariane Santos, mãe do Benjamim, de 7 anos, autista nível 2 de suporte. 

“Ele aprendeu a ter mais autonomia com o brinquedo, que estimula a coordenação motora dele”, comentou. 

A oficina é um espaço de acolhimento, fortalecimento emocional e empoderamento das famílias. 

De acordo com a Promotoria da Cidadania de Santana, ao criar com as próprias mãos materiais personalizados para seus filhos, os pais também desenvolvem autoestima, percepção do desenvolvimento infantil e criam memórias afetivas que reforçam o vínculo familiar. 

“As oficinas acabam se tornando também um espaço terapêutico, onde as mães relaxam, conversam, trocam experiências. O papel do MP-AP é dar suporte com materiais e estrutura. Temos relatos de mães sobre a evolução dos filhos utilizando esses materiais, aliado às terapias nos centros de saúde”, explica Izamara Sousa, assistente social e servidora do MP-AP. 

Mais do que brinquedos, a oficina entrega experiências significativas. A prática manual, o envolvimento direto com os filhos e a possibilidade de criar com os recursos disponíveis transformaram o espaço da Promotoria em um ambiente de convivência, escuta e amor. 

Um gesto simples, mas cheio de potência: ensinar, cuidar e compartilhar. Foi com esse foco que a Tarciane Rodrigues, mãe do Rafael, de 6 anos, autista nível 2 de suporte, e integrante da Assande, idealizou e formulou, junto com outras mães, esta ação. 

“Quando pensamos na oficina, nosso objetivo maior era ajudar nossos filhos a se desenvolverem com coisas simples, de fácil acesso. Nasceu de uma conversa entre mães, em que colocamos nossas necessidades e dificuldades. Parece coisa besta, mas só quem tem filho com TEA sabe o valor de ele conseguir desenrolar e enrolar de volta um carretel de linha, empilhar tampinhas ou juntar objetos da mesma cor. Cada progresso dles é uma vitória nossa, e aqui a gente faz junto e comemoramos cada novo aprendizado, deles e nosso”, destacou. 

Na primeira etapa, ocorrida no início do ano, a presidente da Assande, Cristiane da Silva Barbosa, ministrou a palestra “Estimular através de jogos”, na qual ressaltou a importância do brincar, como ferramenta no processo de desenvolvimento das crianças com TEA, respeitando as individualidades e limitações sensoriais. 

A oficina ocorre em 3 etapas com participação de cerca de 20 familiares, em cada uma. A primeira parte é orientação e conscientização, a segunda é a oficina propriamente dita, com a construção dos brinquedos, e a terceira é a feirinha com troca de experiências e de brinquedos entre os participantes. 

Será aberta uma nova turma para a oficina que vai acontecer em agosto, e quem tiver interesse em participar pode procurar a Promotoria da Cidadania de Santana, que fica localizada na entrada da Vila Amazonas, ao lado Fórum.



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