Arte e Resistência: Projeto leva teatro e desenho para escolas públicas de Santana, no AP

Dois artistas santanenses estão à frente de um projeto inovador que visa fomentar a arte e a reflexão crítica entre alunos da rede pública de ensino de Santana, no Amapá.

A iniciativa leva oficinas de teatro e desenho para estudantes do ensino médio, unindo teoria e prática em atividades que abordam temas sociais contemporâneos. 

A Escola Estadual Professor José Barroso Tostes foi a primeira a ser contemplada pelo “Projeto Cenas: O Teatro-Imagem e a Resistência em Traços”

A atividade tem como base o Teatro-Imagem, técnica criada por Augusto Boal — renomado diretor, dramaturgo e ensaísta brasileiro, referência mundial na prática do Teatro do Oprimido.

Dividida em duas etapas, a oficina começa com um momento teórico, no qual os participantes têm contato com conceitos básicos de teatro e história do desenho. 

Em seguida, partem para a prática, utilizando o corpo e os traços como instrumentos de expressão crítica. 

“A oficina nos mostra como podemos soltar nossos sentimentos e falar de maneira mais expressiva e segura. Vi isso como um aprendizado muito bom”, elogiou a aluna Ana Clara, de 15 anos. 

A metodologia de Boal, que propõe a utilização do corpo como ferramenta de comunicação, busca ampliar a capacidade dos jovens de interpretar realidades sociais complexas, além de estimular o pensamento crítico, a empatia e a cidadania ativa. 

Durante as atividades, temas como mercado de trabalho, justiça social, igualdade de gênero, feminicídio e racismo foram discutidos e transformados em imagens vivas, criadas pelos próprios estudantes. 

“O teatro tem um papel fundamental na vida e na educação dos jovens, especialmente como instrumento de transformação social. Através da arte e do teatro, podemos despertar neles o interesse pelo conhecimento, incentivando a reflexão sobre suas realidades e sonhos. A escola é o espaço privilegiado para que esse despertar aconteça e floresça”, afirmou Nilson Figueiredo, um dos idealizadores do projeto. 

Paralelamente, aconteceu a prática de desenho, que convidou os alunos a expressarem suas reflexões por meio de traços livres, construindo imagens que dialogassem com as questões abordadas em cena. 

Palavras e frases de grandes pensadores e figuras históricas dos movimentos sociais também foram incorporadas às produções. 

“É de suma importância debater as mazelas presentes em nossa sociedade, sendo a arte uma ferramenta fundamental para propor e estimular ambientes que instiguem a criatividade e a expressão. Analisando a história do desenho, desde a Pré-História até os dias atuais, nota-se que o homem sempre registrou seu cotidiano. Sendo assim, a proposta da oficina tem o intuito de abordar problemáticas do dia a dia a partir da prática do Teatro-Imagem de Augusto Boal, criando um espaço para conhecer os alunos e seus pontos de vista a respeito. Também, através de possíveis intervenções criadas individualmente ou em conjunto, busca-se estimular a reflexão sobre os temas abordados”, destacou Emi Barbosa, artista idealizadora do projeto. 

O encerramento da oficina foi marcado por uma exposição coletiva, na qual os estudantes compartilharam suas criações e reflexões sobre o conceito de resistência em suas trajetórias pessoais. 

A proposta é que o projeto percorra outras escolas públicas de Santana, incentivando o uso da expressão corporal e das artes visuais como ferramentas de debate e transformação social. 

Conheça os artistas idealizadores do Projeto Cenas 

Emi Barbosa 
Noemi Barbosa, conhecida artisticamente como Emi, tem 34 anos e é natural do município de Santana, no Amapá. 

Desde 2010, desenvolve experimentos artísticos nas Artes Visuais de forma independente e com o Coletivo Psicodélico.

Graduada em Licenciatura Plena em Artes Visuais pela Universidade Federal do Amapá (UNIFAP), iniciou sua trajetória explorando o videoarte e, posteriormente, expandiu suas criações para a fotografia, performance, instalação, intervenção sonora e desenho. 

Seus trabalhos dialogam com temas como feminismo, meio ambiente, memória urbana e liberdade de expressão artística. 

Nilson Figueiredo 
Conhecido também como Prettomesmo, Nilson Figueiredo é um artista negro, amazônida e residente na cidade amapaense de Santana há 20 anos. 

Acadêmico do curso de Licenciatura em Teatro pela Universidade Federal do Amapá (UNIFAP), Nilson atua na linha do Teatro e Educação, com foco no Teatro do Oprimido, realizando ações artísticas em escolas públicas de Santana. 

Sua produção transita entre performance, teatro e fotografia contemporânea, utilizando técnicas experimentais, como o uso de cristais para criação de efeitos fotográficos. 

Sua pesquisa busca capturar rituais cotidianos urbanos e explorar a linguagem da foto-performance e da fotografia artística.



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