Assim era minha Santana em 1987

Histórico Obelisco da Vila Maia, em santana
Quando vejo minha cidade chegar em mais uma data de aniversário, me vejo viajando no tempo e lembrando exatamente este mesmo período de sua criação. 

Aquele ano era algo diferente em vários aspectos para mim, um garoto de apenas 11 anos de idade, dentro de uma pequena cidade que acredito que não havia mais do que 40 mil habitantes (jogando esse número por alto!). 

Morava com minha família no bairro Jardim Paraíso – hoje apenas conhecido como Paraíso – que por incrível que pareça, era o último bairro da cidade, onde os limites urbanos ficavam na Rua Tancredo Neves que sequer ainda não tinha qualquer tipo de pavimentação e nem asfaltamento. 

Estudava na Escola Amazonas, no Centro histórico da ainda falada Vila ‘Maia’, em Santana. Caminhava diariamente quase 2km se comparado a hoje que nem a garotada teria condições de se arriscar de andar. 

Foto aérea de Santana no início da década de 1990
Havia divertimentos nessa época? Me lembro que a única área de lazer era a Praça Cívica, cheia de árvores e bancos que eram bastante disputados, e as intensas noites de festas na sede social do saudoso Independente Esporte Clube (hoje inexistente). 

Moleque ‘pimbudo’ como eu não podia nem sonhar de ver o que acontecia nas famosas ‘tertúlias’ realizadas na área interna do Independente Clube, mas meu irmão mais velho nos contava em segredo sobre as muitas meninas de 15 e 16 anos que fugiam de suas casas para ‘mariscar’ com rapazes presentes nesses eventos. 

Não é querendo desrespeitar as nossas atuais autoridades policiais, mas naquele ano de 1987 havia uma delegacia dentro da ‘Vila Maia’ que conseguia dar conta de quase dez bairros, enquanto que hoje temos dezenas de policiais desvalorizados pelo poder público que poderiam olhar mais por eles. 

Imagem antiga da Praça Cívica de Santana (1993)
Da mesma forma me refiro na questão do transporte público da época. Éramos atendidos pelos quase dez ônibus da empresa São Judas Tadeu (do saudoso ‘Zé Branco’) que rodavam por ruas e avenidas, independentes da buraqueira e só reclamávamos quando ele demorava pra sair de um terminal provisório que existia nas famosas ‘Quebradas’ da área portuária de Santana. 

Não havia facebook nem whatsapp, mas as notícias corriam tão rápido que passávamos de dias falando, não haviam tanta rivalidade brutal entre os bairros. Claro que sempre houve a criminalidade, mas bem moderada. Muito ‘ladrões de galinha’ que ouvíamos mais falar.

Quando queríamos tomar um bom banho era comum pedalarmos até o Rio Matapí, onde ninguém achava dificuldade sobre a distância (se bem que os ônibus barulhentos da antiga ‘Estrela de Ouro’ alongavam as viagens até o Distrito Industrial, coisa que já não acontece hoje). 

Mas e o trânsito? Se eu disser que a pista mais movimentada que havia naquela época era a Rua Fellinto Muler (hoje Rua Cláudio Lúcio Monteiro) ninguém é capaz de acreditar. A rua saía no portão da mineradora ICOMI, passava em frente à Brumasa (fábrica de compensados), pegava uma parte de uma área particular da Portobrás e seguia até a Vila Amazonas. E detalhe: o movimento só era mais intenso nos períodos de produção das empresas ou durante a semana de pagamento dos funcionários. 

Éramos inocentes de nos recolhermos em nossas casas depois das 19h, não havendo praticamente ninguém nas ruas após desse horário. Hoje vejo a molecada ‘perturbando’ até tarde da noite e os pais nada falam. 

Seguíamos um ritual comum para nossa época que não nos arrependemos nem um pouco, de irmos para a escola pela manhã, cumprir todo o horário (‘matar aula’ nesse tempo era certeza de ‘couro quente’ em casa!), voltarmos para nossas casas, fazer o dever-de-casa e depois aproveitarmos a tarde da melhor forma possível. 

Lembro de ter aprendido a andar de bicicleta numa ladeira da Avenida Castelo Branco que hoje dar acesso para o bairro Fonte Nova. Se acham arriscado descer aquele pedaço de rua, imagine há mais de três décadas. 

Quando queríamos conhecer outros pontos da pacata cidade que se formava, chamávamos alguns trechos – hoje bairros bem distribuídos – por nomes bem inusitados.

Andei pela ‘Pavulagem’ (parte do bairro dos Remédios), pela ‘Kutaca’ (hoje bairro Novo Horizonte) e quase me perco pelo ‘Bacabal’ (área de trás da estação de água da Caesa na Rua Ubaldo Figueira). Ainda me apaixonei por uma ‘pequena’ que ia com seu irmão assistir uma partida de futebol lá na área do ‘Módulo’ do bairro Nova Brasília. 

Quando ouvimos pelo rádio a notícia de que aquele pequeno distrito de Macapá acabava de se tornar um novo município amapaense, ouvimos os fogos de artifícios explodirem nos céus de várias ruas da cidade. Era a certeza de que o desenvolvimento estaria caminhando de maneira excepcional até nós. 

Porém, nos últimos 31 anos testemunhei fatos e acontecimentos que em sua maioria apenas me entristeceram em relação à nossa querida cidade. 

Já se passaram cinco prefeitos e estamos no 6º gestor e pouco tenho visto em termos de melhoria para esta cidade cheia de um povo acolhedor, humilde e cheio de histórias. 

E quando digo que pouca coisa tem sido feita por esta terra faço a comparação do que vivi justamente no ano que fomos transformados em município, garantindo essa independência de região que receberia apoio mais claro e moral das autoridades. 

No entanto, não vemos isso. Particularmente, o que percebo é uma regressão sociopolítica que apenas vem desmotivando a nossa querida sociedade santanense a ainda ver esperança das autoridades, se não apenas deixando com que Deus decida o que de melhor terá por nós. 

Se bem que se saudade matasse, eu já estaria morto, por que aquela época – até 1987 – parecíamos ser mais felizes do que hoje. 

* Artigo de autoria do professor Hamilton Fernandes, de 42 anos, funcionário público, residente em Macapá, mas santanense de nascimento.

Comentários

  1. Nesses anos tudo era mais feliz. Pura verdade... estou com 36 anos e vivi essa época...

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  2. Belas palavras sou santanense mas moro em São Paulo,mas amooo a minha cidade 😍😍😍😍

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  3. Realmente antes era muito morar em Santana. Muito bom seus relatos.

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  4. Morava na Rua José de Anchieta, próximo a Casa da Hospitalidade, lembro-me de brincar de futebol na rua com os amigos, ir assistir jogos no campo denominado"Maconhão", tomar banho no rio amazonas !!! eita saudade, hoje em em dia isso não existe mais, o povo santanense vive preso em suas próprias residencias. Hoje moro no Pará, sinto saudades da minha terra!!!

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  5. Tempo que agente se reunia na frente da casa e contava historias

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  6. Seus relatos são emocionantes, porem muito recente. Vou passar fotos da vila cutaca e vila maia, também tenho fotos do bacabal !! O bairro que vc cita não existia ainda (paraiso)... tenho relatos do banheiro publico que ficava atras da escola amazonas, proximo a loja boticário !! Acho que vc nunca ouviu falar em um bar chamado cacuri !! Rsrs... depois a gente entra em contato. P/ atualizar essas situações!!

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  7. Eu só me lembro do sítio do Abidon kkkkkkkkk

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  8. Lembro de muitos desses lugares citados e principalmente do bar cacuri na Av. Rui Barbosa. Era oxigênio a casa de minha avó. Saudades dessa época e dos caminhos que nos levam a vila Amazonas, passando por trás do hospital passando pelo antigo terreno do japonês. O conhecido Japão.

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  9. Saudades.que tenho dessa época maravilhosa .

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