“Lá vai o trem”: 20 anos sem o cantor Lemos Coiê

Lemos deixou uma marca na música amapaense
A neblina serrana sempre mudava a paisagem montanhosa e verde da mata, além de que o seu nome é até hoje motivo de curiosidade, ela não tem rios navegáveis para grande porte, porém o diferencial é que um capricho da natureza pode explicar o nome da cidade. É, segundo os próprios moradores, que o rio que passa em frente à cidade, se observado via área, possui a forma de um navio. 

Bom, esta Vila de Serra do Navio, hoje município, recebeu na década de 1950, inúmeros migrantes que ali “aportaram” para participarem da odisseia amazônica da exploração mineral do manganês. 

Entre esses “moços” tivemos uma família crioula, da Guiana Holandesa, hoje um país independente, os Coiê, que comandada pelo Velho Gama, que ficou conhecido por explorar os garimpos de Serra do Navio, uns dos pioneiros a chegar naquele lugar. 

Família guarda vários materiais sobre o cantor
Dessa família encontraremos nosso pioneiro, o homenageado dessa semana, por nossa editoria, que conseguiu as informações através de um dos netos de Lemos Coiê, estudante em Santana, que nos fez linha com um dos filhos dessa lenda musical, Robson Coiê, que nos alimentou com as histórias de Lemos Coiê, e garantiu que se quiséssemos teríamos horas de histórias e estórias de seu pai. 

Quem era Lemos Coiê? 
Batizado com o nome de Raimundo Pereira Lemos Coiê, era filho de Gama Mucitalip Coiê e Benedita Pereira Coiê, seus pais crioulos da Guiana Holandesa, pois perdera seus genitores precocemente. 

Raimundo Pereira Lemos Coiê (passaremos a denominá-lo apenas de Lemos Coiê, nome artístico), nasceu na região de Serra do Navio em agosto de 1953, onde começou sua trajetória de força e superação. 

O amor pela música veio desde o berço, e por coincidência, ao se empregar na ICOMI foi detonador de minas, ou seja, era barulhento – “Desde pequeno, já demonstrava o talento para música, amigos falavam que meu pai fazia seus próprios instrumentos musicais e na roda de amigos mostrava seu talento, participando de festivais como o Clube do Guri em Serra do Navio e emocionava o público com sua voz e seu talento na música”, conta Robson Coiê. 

Aos 17 anos de idade já estava efetivado na mineradora ICOMI, uma grande empresa de extração de manganês que atuou no Estado do Amapá. Lemos Coiê (também conhecido como Gama) dava então início a sua trajetória de vida profissional, trabalhando como operário e detonador de minas. 

Partituras de letras musicais do cantor
Casou-se com Rizete dos Santos Coiê, com quem teria quatro (04) filhos: Robson, Romana, Renata e Rômulo dos Santos Coiê. 

Permaneceu morando na região serrana por mais de duas longas décadas. “Conhecia a serra como ninguém”. O amor pela pequena vila operária, de estrutura e beleza ímpar, com clima de cidade europeia, mas com cenário legitimo amazônico, foi que começou a compor as belezas de Serra do Navio. 

Ainda pequeno, despertou seu interesse pela música. Com um violão próprio, reunia com os amigos para cantarem juntos as músicas que faziam sucesso. 

“Seu sonho era gravar seu primeiro CD, por muitos anos lutou para que esse sonho concretizasse. Suas canções retravaram a trajetória de vida serrana, falando sempre das belezas daquele lugar. Muitas canções foram inscritas como serra do Tumucumaque, lugar de gente feliz, a viagem de trem e muitas outras, são mais de 40 composições, letras marcantes que marcaram as noites da cidade alta e do Estado do Amapá. Muito amado pelos seus amigos, um grande homem, humilde, e que tinha um sonho como todos nós”, descreve emocionado seu filho Robson Coiê. 

Paixão pela música 
Seu sonho era de gravar um disco com músicas de sua própria autoria, o que tentou por diversas vezes sem alcançar seu objetivo. De família humilde, o sonho ficava cada vez mais distante. Continuou trabalhando na ICOMI e procurava economizar para a realização de seu sonho. 

Até que o dia chegou. Com sua indenização trabalhista, Lemos viu possível a realização de seu ideal, e lançou seu primeiro CD, denominado “O Trem Partiu”, que ficaria registrado para sempre na memória de todos. 

Diante do sucesso desse primeiro CD, receberia o carinhoso apelido de “Ídolo Negro Serrano” – de outros artistas regionais. “Com a música o “Trem Partiu” deu início a sua grande carreira musical, a música ficou conhecida e logo caiu na boca do povo, um dever cumprido de anos de batalha. 

Logo se comprometeu nos planos de seu segundo trabalho, esbarrando, porém, na burocracia do mundo empresarial que dificultou o máximo para que o seu segundo trabalho fosse concretizado”. 

Entretanto, Lemos iniciou os trabalhos e já possuía em mãos uma fita K-7 com as músicas que compôs para o novo CD, uma delas era Camada de Ozônio que seria a carro chefe do seu novo CD. 

Partida precoce 
Um ataque cardíaco fulminante, na madrugada daquele dia 30 de maio de 1998, calaria pra sempre um dos cantores regionais mais prestigiados da música amapaense daquela época. 

Lemos Coiê faleceu no auge do sucesso
O nosso “Ídolo Negro Serrano” seria sepultado no Cemitério Municipal de Santana, levado por centenas de admiradores e amigos que o conheciam há décadas, amizades construídas no Amapá desde meados da década de 1970, quando aqui chegou para trabalhar na Indústria e Comércio de Minérios Ltda. – (ICOMI). 

Hoje, sua família mora em Santana, pois ficou ao encargo de sua esposa assumir o compromisso da casa, e até hoje ela guarda suas lembranças, de Lemos Coiê, um apaixonado com 6 netos, mas de 5 bisnetos, e a bendita memória, marcada para sempre em seus corações. 

Durante seu enterro o público presente que lamentava a perda do grande nome para a história da música amapaense, cantaria a música que o lançou no campo artístico (“O Trem Partiu”) e que aqui descrevo um trecho aos meus leitores: 

“Lá vai o trem 
Deu sete horas Da manhã 
E já partiu 
Vem de Santana Para Serra do Navio 
Ele vem dizendo 
Café com pão, Café com pão,
Bolacha não

Texto do jornalista Reinaldo Coelho

Comentários

  1. Música inesquecível, marcou minha infância!

    ResponderExcluir
  2. Kkk. Música bacana. Virou tradição ser tocada em todos nossos " Encontro dos Serranos". Lembro muito de minha infância. E do meu pai Alex.👏👏👏

    ResponderExcluir

Postar um comentário