Paredões de Som: Aparelhagem amapaense vira tema de trabalho acadêmico

Um marco importante para a cultura popular do Amapá foi alcançado no ambiente acadêmico: foi defendido o primeiro Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) sobre uma aparelhagem de som genuinamente amapaense, a lendária “Trepidante A Majestosa Harpia”. 

O estudo, realizado por estudantes do curso de licenciatura em teatro da Universidade Federal do Amapá (UNIFAP), joga luz sobre a trajetória, o impacto sociocultural e a relevância econômica desse gigante do entretenimento popular. 

Imersão e Paixão pelo Tecnomelody em Relatos Pessoais 
O trabalho acadêmico, fruto da pesquisa dos estudantes Lídia Patrícia Rocha Martins e Nilson Figueiredo Santos, traz à tona a intensidade dessa relação. 

A investigação captura a vivência dos frequentadores e a força do contato com o tecnomelody, destacando a imersão e a paixão que o gênero musical provoca. 

A história das aparelhagens de som no estado tem raízes profundas na cultura popular amazônica, surgindo como uma evolução dos bailes e festas tradicionais. Inspiradas pelo sucesso do vizinho Pará, as aparelhagens amapaenses, com seus imponentes sistemas de áudio e luzes, começaram a ganhar destaque a partir das décadas de 1980 e 1990, tornando-se um elemento central nas festas e celebrações da periferia de Macapá e outras cidades.

Elas trouxeram um novo formato de diversão que une tecnologia e a inconfundível batida da música eletrônica regional. 

Resistência, Criatividade e Economia na Amazônia 
A pesquisa pioneira se justifica por evidenciar que as contribuições das aparelhagens para a cultura popular do Amapá vão muito além do entretenimento. 

Elas representam a resistência e a criatividade das periferias, oferecendo um espaço vital para o lazer coletivo e a criação de novas identidades musicais e estéticas. 

“Ao longo dos anos, esse movimento cultural também passou a ser uma importante vitrine para artistas locais e um motor da economia criativa, destacando a força da cultura amazônica no cenário nacional. Por isso, as aparelhagens devem ser estudadas e mais difundidas no ambiente acadêmico”, aponta o estudo. 

O público dessas festas, majoritariamente jovem e das camadas populares, se identifica com a acessibilidade e a potência do tecnomelody, do calipso e do tecnobrega, ritmos que se transformam na trilha sonora de uma geração. 

Lídia Patrícia Rocha Martins relata a experiência que a tornou frequentadora assídua da Trepidante: 

“Minha relação com a Trepidante se inicia em 2017, quando tive a oportunidade de ir a uma festa no interior, mais especificamente no Abacate da Pedreira, uma comunidade que fica a 16 km de Macapá, capital do Amapá. Por ser no interior, eu não imaginava quão grande seria a estrutura do som e fiquei deslumbrada com o show de cores e luzes, e impressionada com a multidão que chegava naquele lugar longínquo, daí por diante, passei a ser frequentadora assídua. Aprendi a dançar frequentando essas festas”, descreve Patrícia. 

A memória afetiva e cultural é reforçada por Nilson Figueiredo Santos, que cresceu imerso nesse universo: 

“Guardo na minha memória uma vivência profunda na Ilha do Marajó, onde meus primeiros contatos com a cultura local e sua musicalidade foram marcantes. Cresci envolvido pelo ritmo vibrante das festas de aparelhagem e do tecnomelody. Era impossível não se deixar levar pelo som potente, pelas luzes coloridas e pela emoção das multidões que se uniam ao som das batidas eletrônicas e das vozes marcantes dos DJs. As festas de aparelhagem eram verdadeiros espetáculos, com suas caixas de som enormes e efeitos visuais que transformavam qualquer espaço em um show grandioso.” 

A defesa deste TCC na UNIFAP não apenas valida a importância da Trepidante “A Majestosa Harpia” como fenômeno cultural, mas consolida um precedente, abrindo as portas da academia para o reconhecimento do valor inestimável das aparelhagens como patrimônio e motor da identidade cultural amapaense.

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