Trabalhadores da Sião Thur completam cinco meses de salários atrasados

Empresa nega atraso de tantos meses.
Imagine ficar um mês sem salário e ter que sustentar a família e sobreviver a uma pandemia que instaurou incerteza e dor no mundo todo. O cenário fica ainda pior quando esse mês se transforma em cinco meses, longos e desafiantes. Essa é a situação vivida pelos funcionários da empresa de ônibus Sião Thur, segundo denúncia de Max Delis, presidente do Sindicato dos Condutores e Trabalhadores do Transporte Rodoviário do Amapá (Sincottrap).

O presidente disse que a empresa começou a atrasar os salários ainda em janeiro, antes que a pandemia do novo coronavírus chegasse ao Amapá: “de janeiro a março já estavam sem pagar e a situação se agravou mais em abril e maio com o coronavírus. Desde janeiro sem receber nada”. 

O presidente diz que são mais de 600 funcionários da Sião Thur nessa situação, que mesmo sem salários, não pedem demissão por medo do futuro, medo do que aconteceu com mais de 100 trabalhadores dispensados em plena pandemia. 

“Temos ainda que falar dos mais 200 trabalhadores que foram afastados por dois meses, que tiveram seus contratos suspensos para receber o salário pela Caixa Econômica, mas com a burocracia, os cadastros não foram finalizados pela empresa a tempo e o dinheiro nunca chegou”. 

O líder sindical cobra ainda um posicionamento da Prefeitura de Macapá, pois além da dificuldade já vivida, nos últimos meses, os cobradores de ônibus foram demitidos e os motoristas agora são obrigados a acumular as duas funções. 

“Os motoristas estão tendo que dirigir e cobrar, já pensou um absurdo desse? Temos um projeto de lei já aprovado na Câmara de Macapá que impede isso, mas a Prefeitura tem que se posicionar”. 

A empresa Sião Thur tem a garagem em Santana e possui duas linhas, uma dentro de Macapá e outra intermunicipal. 

Protestos suspensos 
Quando questionado sobre a ausência de protestos diante dessa realidade, o líder sindical explica que durante este período, a orientação de saúde de não aglomerar pessoas é obedecida, pela vida dos próprios trabalhadores. 

“Agora tá tudo parado. Aquela movimentação nas garagens com carro som, não podemos fazer. Os decretos municipais e estaduais proíbem aglomerações e isso nos impede. Mas nossas ações são jurídicas. Temos várias ações no Ministério Público, todas essas problemáticas de salário atrasado, suspensão de contrato e pagamentos de rescisão que, segundo a empresa, é a Prefeitura que vai pagar. Tudo está sendo acompanhado pelo MP”. 

Negação 
A imprensa procurou a assessoria de comunicação do Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros do Amapá (Setap) para saber qual a justificativa para tantos meses de atraso. 

O Setap disse que “é mentirosa a informação de atraso de 5 meses e da negativa do pagamento dos direitos trabalhistas” e que as empresas acumulam desde o início da pandemia um prejuízo de mais de R$ 13 milhões, sendo R$ 4 milhões só da Sião Thur. 

A nota de resposta diz ainda que “mesmo sem apoio dos governos, a empresa tem honrado com seus compromissos e parcelou salários, conforme autorização expressa em MP editada pelo governo federal”. 

Campanha nas redes 
A denúncia do calvário atravessado por esses trabalhadores ganhou as redes sociais na primeira quinzena de junho, quando se iniciou uma campanha de arrecadação de dinheiro para ajudar no tratamento de um ferimento grave no pé de um dos trabalhadores da Sião Thur. 

Segundo familiares e amigos, o motorista não tinha como tratar da doença por estar sem receber há meses. A campanha teve grande repercussão no Facebook e em blogs de notícias locais. A exposição do problema de saúde do funcionário também expôs a situação vivida em seu emprego. 

Ajuda 
Segundo Max Delis, o Sincottrap entregou nos últimos meses mais de 200 cestas básicas para os funcionários sem salários, para amenizar a fome em suas casas e colaborar com o desafio de passar pela pandemia. 

“Fizemos um movimento e entregamos esses mantimentos para os companheiros que estão sem seus rendimentos e sem perspectiva. Isso é muito triste”, concluiu o presidente.

Informações postadas no jornal A Gazeta Amapá

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