Uma pequena cidade chamada Vila Amazonas

A Vila seguia um padrão norte-americano
A origem da construção do bairro Vila Amazonas data em 1955 e levou cinco anos para o término de suas obras de urbanização. A história da vila acompanha concomitantemente a da criação da cidade de Serra do Navio, e com o mesmo objetivo, abrigar os funcionários da empresa ICOMI. 

A responsabilidade do projeto de arquitetura e urbanização coube ao arquiteto paulista Osvaldo Arthur Bratke (1907-1997), especialmente encomendado pelo Grupo CAEMI (Companhia Associada de Empresas em Mineração), presidida pelo engenheiro industrial Augusto Trajano Antunes. 

1956: Terraplanagem inicial da área da Vila
A firma contratada para executar este projeto foi a Sociedade de Engenharia Mello Mattos & Amaral Ltda (de propriedade do Engenheiro Civil Luis Mello Mattos). 

Para quem não sabe, a Vila Amazonas é um projeto arquitetônico totalmente elaborado por técnicos brasileiros, implantando um novo padrão de arquitetura e construção que foi imitado por vários profissionais da área, inaugurando um novo projeto arquitetônico na região, adaptado ao clima equatorial. 

Com a implantação da Indústria e Comércio de Minérios Ltda (ICOMI) no então Território Federal do Amapá – a partir da década de 1940 –, surge a necessidade de mão-de-obra especializada para atuar na Companhia. 

A Vila Amazonas continha mais de 330 residências
Devido à carência, foi preciso buscar esses profissionais em outros Estados. O objetivo inicial: treinar a mão-de-obra local. 

Mas a prática provou a inviabilidade do projeto. A Vila Amazonas surgiu exatamente dessa necessidade de abrigar esses profissionais da melhor maneira possível. 

O projeto da Vila incluía a construção de residências bem estruturadas e bem trabalhadas esteticamente para todos os funcionários, uma escola de 1° grau, um conjunto médico-hospitalar com centro de saúde e unidade de enfermagem, centro cívico que possuía cine teatro, administração, agencia de correio, banco, loja, barbeiro, supermercado e outros serviços. 

Serviço hospitalar construído na Vila Amazonas
A vila dividia-se em primárias (Vila Operária); Intermediárias (profissionais classificados dentro da própria empresa) e o Staff (restrito somente a profissionais liberais que vinham exercer elevados cargos na administração da Companhia). 

Inspirada no modelo de cidades-jardim dos EUA, a Vila Amazonas não tinha muros, suas casas em sua maioria eram conjugadas, os terrenos eram gramados com jardins, os espaços entre as edificações eram bem generosos. 

Havia ruas exclusivas para pedestre, de modo que estimulava as relações sociais e a utilização das calçadas e dos próprios quintais. Uma das principais preocupações levantadas pelo arquiteto era a valorização das relações sociais entre os moradores da Vila. 

1965: Festa dançante na sede social da Vila
A Vila Amazonas viveu seu auge entre sua inauguração em 1960 até meados de 1998, período que a ICOMI encerrou sua atividade no Estado, era provida com abastecimento de água e esgoto, calçamento, arborização, drenagem de águas servidas e pluviais, representava, assim como Serra do Navio, um símbolo do desenvolvimento para os padrões da época. 

Em conseqüência do surgimento da Vila Amazonas, as demais áreas do recém nascido distrito de Santana começaram a iniciar um processo de crescimento desordenado. 

1965: Pátio da Escola da Vila Amazonas
Por causa disso houve uma necessidade de manter uma integração entre as vilas Amazonas e Maia para que não acontecesse a ação de diferenças na expansão do atual município de Santana, ou seja, um balanço igualitário no quadro social da questão, sendo que na época a economia do pequeno distrito portuário girava em torno das atividades da ICOMI. 

Atualmente o abandono do bairro, a ineficiência atual dos serviços de água e esgoto, a má iluminação, a perda gradativa de calçadas e arborização, os terrenos vazios e a perda de sistema de drenagem simbolizam o descaso do poder público. 

A destruição gradual provoca a perda de importantes dados históricos do local, principalmente de valor afetivo de antigos moradores. A especulação imobiliária transformou esse lugar num espaço elitizado, predominantemente residencial.

Comentários

  1. A história de um povo e seu município é fixada através dos tempos pela memória cultural, que se expressa sobretudo na arquitetura de prédios, nos nomes de ruas, praças, em monumentos, paisagens, bem como, nas formas de celebrações, usos e costumes desse povo. Esse conjunto de elementos históricos formam o Patrimônio Cultural de uma cidade e sua gente. Destruir vilas históricas, sua arquitetura, seus prédios e monumentos é destruir partes da história de um povo, deletando-as da memória cultural, que nunca mais poderá restaurada.

    Parabéns ao articulista por resgatar esse capítulo nostálgico da história de Santana.

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