“04 de fevereiro”: Aniversário somente de Macapá!

Há quem diga que a cidade de Santana – segundo maior município do Amapá – esteja completando hoje (04 de fevereiro) 259 anos, juntamente com a capital Macapá. 

Uma das justificativas dadas por alguns pioneiros e admiradores da historiografia amapaense é o possível fato de uma visita feita pelo então Governador do Grão-Pará e Maranhão Francisco Xavier de Mendonça Furtado (1700-1769), que teria fundado a vila de São José de Macapá na manhã do dia 04 de fevereiro de 1758, sendo que, horas após deixar aquele vilarejo recém-fundado, teria o governador Mendonça Furtado se deparado com uma ilha durante seu trajeto até o Rio Negro. 

A citada ilha – distante pouco mais de três léguas – conforme uma das cartas protocoladas nos Arquivos Públicos do Estado do Pará – já era habitada por um número limitado de indígenas de uma tribo pouco conhecida na época (hoje identificada pelos historiadores como os “Apalai”). 

Ainda de acordo com os registros essa visita cordial não era exatamente um ato de fundação, mas sim, um tipo de “inspeção oficial”, onde Mendonça Furtado teria apenas se prontificado de averiguar uma civilização que – já – havia sido oficialmente fundada pelo governador paraense pelo menos seis anos antes. 

“Mas como assim?”, devem se perguntar alguns curiosos. Pois bem, de acordo com uma das centenas de correspondências redigidas por membros de sua comitiva governamental, Mendonça Furtado realizou diversas visitas à regiões pouco povoadas e até desconhecidas da região amazônica durante seu governo, que foi de setembro de 1751 a março de 1759. 

Segundo o livro “Informações Sobre a História do Amapá – de 1500 a 1900”, do saudoso professor Estácio Vidal Picanço (1936-2004), o governador desembarcou teria aportado pela 1ª vez em Macapá no dia 06 de março de 1752, numa viagem de inspeção, após tomar conhecimento de que uma epidemia de cólera cobria os poucos colonos residentes em Macapá. 

A comprovação foi tomada visivelmente pelo governador Mendonça Furtado, que se espantou com o quadro de insalubridade do local, considerado como um dos graves problemas enfrentados pelos moradores da pequena vila macapaense. 

Mendonça trouxe consigo o único remédio existente em toda Capitania e medicamentos, conseguindo assim controlar a moléstia. 

Ainda no mesmo dia de sua chegada – reporta nos documentos históricos – Mendonça teria conhecido um pequeno povoado situado numa ilha distante da vila de Macapá, conforme descreve Vidal (1980), no trecho abaixo em seu livro: 

“(...) Rodeando as extremidades da mesma ilha, pela parte de oeste, atravessou o canal maior a buscar a terra firme, oposta, chamada de Macapá, costa que se prolonga por baixo do Equador para o norte, a formar o cabo deste nome e continua caminho do noroeste a buscar Caiena, ilha habitada de franceses, que são por aquela parte nossos confinantes. 

Portou Sua Excelência no presídio chamado de Santa Ana de Macapá; em cujo distrito, em sítio plano, fundou uma vila, destinando para seus primeiros povoadores um bom número de famílias insulanas, que da Terceira e outras dos Açores, havia Sua Majestade Fidelíssima mandado conduzir às expensas de sua real fazenda para aquele estabelecimento (..); 

Demorou-se Sua Excelência mais de um mês, presenciando as operações desta fundação, e partilha das terras para as lavouras dos novos moradores; os quais experimentaram os efeitos da sua grande bondade; porque, além de com eles resplandecer a misericórdia de os vestir, também exercitou a de os sustentar; mandando à Cidade buscar mantimentos para lhes suprir, enquanto as terras não retribuíam com a doçura dos frutos, as amarguras do trabalho; e assim, favorecidos no temporal e recomendados à inspeção de um oficial de merecimento, os deixou socorridos no espiritual com um vigário de igual ciência que caridade, encarregando a este a obrigação de um bom Pastor, e àquele a vigilância de honrado Capitão. (...)”

A mesma informação acabou sendo recentemente reforçada no livro “A Amazônia na Era Pombalina” (2005), coordenado pelo senador amapaense José Sarney, que publicou as correspondências com maior intensidade linguística e original. 

A Ilha é uma coisa, a cidade é outra
Outra questão que diversas pessoas comentam em relação a essa suposta fundação simultânea das duas cidades – Macapá e Santana – é que “se de fato alegam terem fundado o povoado da Ilha de Santana, as comemorações deveriam acontecer na região de origem e não na área urbana do atual município de Santana!”. 

Para quem não sabe, o povoado existente na Ilha de Santana realmente se mantem há séculos, diferente da atual cidade de Santana, que somente começou a se formar no final da década de 1940 do século passado (XX) conforme uma planta topográfica projetada por técnicos da mineradora ICOMI que incluíam em seu traços de embarque um local que pudesse estocar o minério que seria retirado da região mineral de Serra do Navio. 

Obviamente, se não fosse esses projeto de instalação do porto da ICOMI, que acabou impulsionando na formação desordenada das primeiras moradias nas imediações do porto da empresa, construída por operários, a segunda maior cidade do Amapá não seria essa que hoje conhecemos. 

Vendo que o desenvolvimento urbano, social e econômico vinha caminhando desse lado do Rio Amazonas, diversas famílias, que antes até residiam na histórica Ilha de Santana passariam para o lado mais desenvolvido – hoje Santana – deixando a anterior região menos habitada, como vemos atualmente, ajudando significativamente no crescimento da cidade portuária, que somente ganharia emancipação política em dezembro de 1987. 

Sendo assim, podemos dizer que a história relacionada à fundação do povoado da Ilha de Santana começa em 1752 – e não em 1758, como divulgam – deixando claro que somente a atual cidade de Macapá é que teria sido realmente elevada à categoria de Vila naquele dia 04 de fevereiro de 1758.

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