Pouco conhecida, Beco da Avenida Santana mantêm um pedaço da economia local

Beco fica na Área central e tem acesso dificultoso
Quem frequenta diariamente o Centro Comercial do município de Santana, dificilmente deixa de ir à Área Portuária da cidade, um ponto onde se encontra inúmeras opções para o dia-a-dia, tanto para o uso doméstico, profissional ou de lazer. São dezenas de pontos comerciais distribuídos pela mais famosa via pública da cidade (Avenida Santana) que variam entre confecções, calcados, bebidos e artigos de utilidades. 

No trecho que começa ao lado da Praça da Bíblia (em frente ao portão de entrada da mineradora Zamin Amapá) até chegar na curva de acesso ao porto do Grego são mais de 50 estabelecimentos (entre importadoras, lojas de roupas, de ferragens e bares) que se espalham nesse limite. Porém, em paralelo à conceituada Avenida Santana, existe um pedaço de via pública que se esconde entre essas lojas diversificadas e o muro de proteção da mineradora Zamin, na qual poucas pessoas já tomaram conhecimento da existência dessa travessa que tem mais de 500 metros de extensão (ou seja, meio quilômetro) e esconde valiosas informações da história de Santana: trata-se do Beco da Avenida Santana. 

Segundo o pescador aposentado Jonas Rodrigues de Matos (conhecido na área do grego como “Seu Jojoca”), a área começou a ser parcialmente habitada no final da década de 1960, de forma de muito ilegal e ousada para a época. 

“Como a área pertencia à ICOMI (mineradora que explorou e exportou o minério de manganês do Amapá por mais de 50 anos), a diretoria liberou que as famílias usassem a área somente para construir barracas provisórias para vender mercadorias, como peixe, farinha, macaxeira e coisas assim. Era isso que quase todo mundo fazia e nunca houve problema com a ICOMI. Só foi muitos anos depois que começou as confusões”, contou o aposentado. 

Existem mais de 100 casas construídas no local
Quando Seu Jojoca se refere à confusão gerada na época, se diz sobre algo que somente veio a acontecer quase 20 anos após viverem em harmonia entre as famílias de agricultores e pescadores com a mineradora ICOMI. Ou seja, em abril de 1987, o então prefeito de Macapá autorizou que cerca de 30 feirantes armassem provisoriamente algumas barracas (em madeira) na área ao lado do muro de proteção da mineradora, sendo futuramente retirado quando a empresa necessitasse do espaço. 

Mas segundo Seu Jojoca, o acordo feito entre a Prefeitura de Macapá e os feirantes não foi claramente cumprido, gerando na época um sério desentendimento entre a diretoria da ICOMI e o Executivo Municipal. 

“O prefeito Azevedo Costa achava que tinha ficado apenas as 30 barracas levantadas, foi quando a diretoria da ICOMI o comunicou que já havia mais de 80 barracas construídas e já tinham até moradias feitas de alvenaria, o que estava proibido pela prefeitura. Aí ficou formada a confusão”, continuou o aposentado, que disse que o término da confusão só acabou após a mineradora perceber que não tinha outra alternativa a não ser deixar que os feirantes se mantivessem no local, o que acabou somente se ampliando com o passar dos anos. “Quando criariam a Área de Livre Comércio de Macapá e Santana, foi aparecendo as primeiras lojas e depois alguns moradores começaram a vender suas casas e surgiram essas moradas que ficam de frente para a Avenida Santana, o que acabou escondendo o nosso acesso.” 

Ainda de acordo com Seu Jojoca, o aparecimento de novas moradias que viriam a obstruir o acesso dos primeiros moradores não pôde ser judicialmente questionado, já que os feirantes que permaneceram no local não procuraram adquirir na época uma autorização definitiva da prefeitura de Macapá (ou até mesmo já da Prefeitura de Santana). “Não iria adiantar de nada brigar na justiça por algo que ainda não éramos donos de verdade. Tudo dependia da prefeitura para autorizar que ficássemos ou não”, disse. 

Acesso ao Beco fica por trás das lojas (à direita)
Somente no final do século passado (em 1999) que os primeiros lotes foram legalmente cedidos pela Prefeitura de Santana, após ser feito um mapeamento detalhado da travessa (ou beco, como muitos se referem) que já constatava a existência de quase 120 pontos (entre residenciais e comerciais) e cerca de 700 habitantes. 

Um comércio “formal e informal”
Atualmente o local, que inicia na lateral do muro da mineradora Zamin, é constituído de bares, lojas de produtos importados, de utensílios de cozinha e do lar, farmácias, e outras mais, assim como o discreto Beco da Avenida Santana, que também mantem pequenos empreendimentos que vão de oficinas mecânicas, chaveiros, relojoeiros, metalúrgicas, até aluguel de quartos coletivos e individuais, tanto para uso familiar ou para os tais “usos provisórios”. 

“Quem pensa que só existem lojas por aqui, tá enganado. Tem quartos que servem até de motel”, falou o vendedor ambulante Fernando de Souza, que, assim como outros vendedores, utilizam informalmente alguns pontos do local, na comercialização de acessórios para celulares e aparelhos eletroeletrônicos.

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