Novo Amapá: o sobrevivente que está na lista dos mortos

O enfermeiro Raimundo Cândido Donato, o famoso Seu Basílio, hoje com 68 anos, rompeu um silêncio guardado há mais de 33 anos. Pela primeira vez ele teve coragem de falar publicamente sem interrupção sobre o naufrágio do Barco “Novo Amapá”, ocorrido na noite de 06 de janeiro de 1981. Diz que conseguiu superar o trauma há pouco tempo e que agora já consegue falar sem engasgar. 

“Eu não conseguia. As pessoas quando sabiam que era sobrevivente do Novo Amapá queriam saber, mas eu não gostava nem de tocar no assunto. Foi tão dolorido aquilo tudo que muitos meses depois não conseguia nem comer por que logo me vinha na cabeça os gritos e aquelas crianças chorando. É muito dolorido, você não imagina”, relembra Seu Basílio, cuja história é inusitada. Ele foi considerado morto e seu nome está na placa do monumento de homenagem aos mortos do naufrágio, erguido no cemitério de Santana, onde as vítimas foram enterradas em cinco valas abertas, já que os corpos ficaram irreconhecíveis e por isso foram jogados em caixotes, amontoados um ao lado do outro. “Eu sou considerado morto, mas graças a Deus estou vivo. Não sei como, mas estou, por que sei nadar muito pouco. Só Deus mesmo!”, exclamou. 

Seu Basílio conta que foi tudo muito brusco, questão de segundos e naqueles segundos que o barco tombou de uma única vez para a esquerda só pensou em Deus e teve certeza que iria morrer. “Eu estava deitado no chão por que não tvee como atar rede por que o barco estava superlotado. Era por volta de oito e meia da noite, depois da janta. Só senti quando o barco tombou de uma vez e eu acompanhei o tombo, fui para o fundo e voltei, consegui me segurar em cima do barco. Tirei logo a calça, o sapato e fui tentando nadar para a beira, bem devagar. Muita gente tentava se segurar em mim. Foi muito desespero, meu Deus! Eu só via aquelas cabecinhas num lastreado. Cheguei na beira e me juntei com mais umas pessoas e também ajudei outras a chegar na margem. Os primeiros a nos ajudarem foram os moradores de lá mesmo, por que o socorro mesmo demorou muito. Foi chegar no outro dia. Eu mesmo só cheguei em Santana no dia 09. Sobrevivi, graças a Deus, mas não esqueço daquelas tantas crianças que morreram todas com os bracinhos para cima”, relembrou Seu Brasílio.

Comentários

  1. Olá! estou a procura da minha irmã por parte de pai. Tenho poucas informações sobre ela e a mãe dela , mas sabemos que a mãe dela estava nesse navio e foi uma das vitimas fatais, o que sabemos é que ela se chamava Rosa, apenas isso. Se fosse possível alguém me enviar uma foto legível do monumento em homenagem as vitimas iria nos ajudar muito nas buscas, caso o nome dela estivesse lá. Meu email: Karenjuliete@live.com

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