Acusado de matar ex por ciúmes mandou mensagens com ameaças: ‘vai ter velório mesmo’

Marcione Souza dos Santos era manicure, cabeleireira, criava o filho de 10 anos e completaria 31 anos na próxima semana, na terça-feira (22), mas teve os sonhos e planos interrompidos assassinada em via pública pelo ex-companheiro, Cleyton Silveira Benicio, de 18 anos, que não aceitava o fim do relacionamento. O feminicídio aconteceu no último sábado (12) no interior do Amapá. 

A família da vítima revelou trechos de mensagens que foram atribuídas ao acusado, no final da tarde desta segunda-feira (14). Nos ‘prints’ das conversas acima, aparecem mensagens de antes e depois do assassinato. 

No primeiro ‘print’, a irmã de Marcione, Lana dos Santos Rodrigues, pede por áudio para que o ex-cunhado não faça nada a ela e a resposta é: "tá bom, vai ter velório mesmo". 

No segundo ‘print’, a irmã de Marcione volta a chamar a atenção do ex-cunhado: “Cleyton, poxa, faz o que eu estou dizendo, deixa ela buscar as coisas dela, sozinha, para evitar confusão, deixa ela só lá, evita para não preocupar nem a minha mãe e nem a tua”, diz a irmã da vítima. 

Segundo a irmã, o acusado responde após cometer o crime, por volta das 23h30 do sábado: “foi ela quem pediu, agora eu não posso fazer nada”. 

Antes do crime 
Marcione tinha residência em Santana, a 17 quilômetros de Macapá. Neste mesmo município morava o filho dela de 10 anos junto com o pai. 

Há quase 2 anos ela conheceu Cleyton em uma roda de amigos, quando ele tinha 16 anos. Os dois se envolveram e ela acabou se mudando para Mazagão Velho, local onde o ex-companheiro morava. 

A irmã dela, Lana Rodrigues, conta que morou por um tempo próximo ao casal no mesmo município e que tinha contato com os dois. 

“Teve um momento que ela conheceu ele e resolveu parar e se dedicar a ele e nisso foi passando e ela foi se envolvendo”, disse Lana. 

De acordo com a irmã, Marcione vinha tentando romper laços mas o acusado não aceitava. Há cerca de duas semanas, a vítima havia viajado até a casa da mãe em Ferreira Gomes, distante 137 quilômetros de Macapá e apresentou Cleyton à mãe. 

No início da semana passada Marcione teria deixado o filho de 10 anos na casa do pai e retornado à Mazagão. Na sexta-feira (11), já em Mazagão, Marcione e Clayton tiveram uma briga e ele acusou a vítima de traição, segundo a irmã. 

No final de semana aconteceu a troca de mensagens (acima na reportagem) na qual o acusado dizia "vai ter velório mesmo" para a irmã de Marcione. 

Assassinato em local público 
Por volta das 21h30 do último sábado (12) Marcione Souza dos Santos foi vítima de feminicídio, no distrito de Mazagão Velho, no município de Mazagão, Região Metropolitana de Macapá. 

Segundo relatos de testemunhas à Polícia Civil, a vítima estava na orla do distrito, quando o suspeito se aproximou e a esfaqueou várias vezes. O crime aconteceu no dia do aniversário de 18 anos de Cleyton. 

O corpo da vítima foi removido do local pela Polícia Científica por volta das 23h. O enterro aconteceu nesta segunda às 9h em Ferreira Gomes, na comunidade onde mora a mãe da vítima. 

“Eu quero que ele pague pelo que ele fez, porque não é fácil a gente perder uma pessoa assim de forma tão trágica [...] ver a minha irmã jogada. Ele dizia tanto que amava ela e chegou a fazer isso com ela, não é fácil, eu só quero que ele pague pelo que ele fez”, disse Lana. 

Prisão 
Após o crime, o ex-companheiro teria entrado em um pequeno barco e fugido pelo rio que passa pelo local. Ele foi preso na manhã deste domingo (13) e confessou o crime, segundo a polícia. 

“O crime foi motivado pelo sentimento de posse e obsessão do ex-companheiro da vítima, que confessou estar separado da ex-companheira há cerca de um mês. Ele alegou que a vítima supostamente estaria lhe traindo no dia do crime com seus primos. E, que já havia perdoado outras duas traições, porém, não teria como aceitar o que ela teria feito desta vez com os próprios parentes dele”, informou o delegado 
Alderlon Santos, que investiga o caso.

Violência psicológica 
A família da vítima disse que Marcione tentava se separar, mas sempre recebia respostas que a fazia ‘se sentir culpada’. 

“Quando ela ia lá para minha casa, ele chorava pra ela voltar, ele fazia o show dele. Ele chorava e dizia que se ela largasse dele, ele ia se matar. Ela dizia ‘mana, ele fala que se eu largar dele ele vai se matar e eu não quero isso’ .[...] então ela ficava com medo de se sentir culpada sabe, se ele fizesse algo na vida dele”, relatou a irmã da vítima. 

Ela foi assassinada no mês da campanha Agosto Lilás, de enfrentamento à violência doméstica e familiar contra a mulher. 

De acordo com a secretária de políticas públicas para mulher, Adrianna Ramos, a violência psicológica é um dos primeiros estágios dos casos de feminicídio. 

“A violência psicológica é o início do ciclo de violência contra mulher. Muitas vítimas não consegue identificar que, atos de humilhação, desvalorização moral ou deboche público, atitudes que diminuem a estima podem fazer com que a mesma desenvolva vários tipos de doenças, como a depressão por exemplo. Quando provocamos a sociedade a se envolver nesta campanha, é justamente para chamar atenção à responsabilidade que cada um de nós temos sobre àquelas que estão sofrendo toda e qualquer tipo de violência e não sabem como identificá-la, nos obrigando a falar, a denunciar”, afirmou Adrianna Ramos. 

A Secretaria de Estado de Políticas para Mulheres do Amapá disponibiliza o número (96) 98402-7649 para atendimento a mulheres vítimas de violência, seja psicológica, doméstica, patrimonial ou sexual. Entrar em contato com a rede de apoio e denunciar pode evitar que o pior aconteça.

*Informações postadas no G-1 Amapá.

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