“Foram momentos de terror”, relembra sobrevivente do Cidade de Óbidos

Há exatos 20 anos o Amapá viveria um marcante e triste pesadelo na história da navegação local. 

A tragédia com o barco Cidade de Óbidos, na região do Rio Jarí, deixou um saldo de sete mortos, como também, uma forte e traumática lembrança na vida de centenas de sobreviventes que ali se desdobraram da melhor forma possível para não serem tragados para a morte. 

Entre essas pessoas estava a professora Josinete Garcia, hoje com 42 anos, que na época prestava serviços na Prefeitura de Santana, que integrava uma comitiva municipal que seguia para o sul do Estado. 

“Fizeram convites espontâneos para quem quisesse ir nessa viagem, muitos quiseram ir e também aceitei”, disse a professora, ao blog. 

Segundo ela, a saída da embarcação do porto de Santana – ainda no dia anterior ao fatídico – ocorreu de forma normal. 

“Muitas autoridades embarcaram, nada de anormal, e muitos ficaram a noite jogando baralho, conversando”, conta. 

A colisão 
Como tantos que não esperavam pelo fato, Josinete estava deitada em sua rede quando sentiu que o barco havia colidido com algo bem pesado. 

“Era de madrugada e todo mundo acordou com aquela batida e logo viram que se tratava de uma balsa. Alguns passageiros rapidamente pularam para dentro da balsa, com medo do pior, mas um dos funcionários da embarcação disse que não era nada grave e parecia que a viagem iria prosseguir”, detalhou. 

Mas foi um puro engano que logo foi percebido quando o barco se ‘desprendeu’ da imensa balsa e seguiu por apenas alguns metros distante após a colisão. 

“Assim que ele se afastou da balsa, o barco já foi afundando rapidamente. Não deu tempo pra muita coisa. Quando vi ja estava na água.” 

Ainda sem as luzes do dia aparecendo – já que o fatídico ocorreu por volta das 5h da manhã – Josinete procurou de todas as formas se manter segura, até que pudesse ser finalmente resgatada de dentro d’água. 

“Foram momentos de terror que vivi, por não saber nadar e não sabíamos para que lado nos sentirmos mais seguro”, disse. 

A notícia do ocorrido chegou primeiramente à região do Jarí, devido um dos passageiros ter um aparelho padrão ‘globalstar’ (na época bastante utilizado em serviços de comunicação móvel a distância), onde tão logo já foram chegando diversas embarcações para o resgate.

Apoio 
Josinete conta que os sobreviventes foram levados para as instalações de uma escola que ficava nas proximidades do local do fato, onde ali ficaram até depois seguirem para o município de Laranjal do Jarí, onde receberam melhores acomodações, ainda no mesmo dia do desastre. 

“Uma pessoa que muito contribuiu nesse momento foi o Barbudo Sarraf, que não apenas providenciou hospedagem como também alimentação após irmos para o Jarí”, reconhece.

Retorno a Santana 
Mesmo diante do livramento que teve, a professora relata que passava grande parte do tempo chorando (após ser resgatada). 

“Pensava muito na minha família, na minha mãe. Como perdi meu telefone durante o naufrágio, consegui contato com uma vizinha de casa que avisou ela que eu estava bem, mas ela não acreditou, queria me ver para ter certeza que eu estava viva”, detalhou. 

Mas esse reencontro apenas se deu dois dias após o ocorrido, quando os sobreviventes puderam retornar à Santana através de ônibus concedidos pelas autoridades. 

“Quando os ônibus chegaram na Praça Cívica, haviam muitas pessoas esperando para reencontrar com seus parentes. Logo eu avistei minha mãe e meus irmãos. Me senti bem de está de volta”, enfatiza. 

Detalhes da tragédia 
O naufrágio do barco Cidade de Óbidos I aconteceu na madrugada do dia 26 de janeiro de 2002, na região de Jarilândia, próximo ao município de Laranjal do Jarí, matando sete (07) passageiros. 

A embarcação havia deixado o Porto de Santana na tarde do dia anterior (25), com destino à região de Laranjal do Jarí, levando cerca de 180 pessoas, entre autoridades políticas e correligionários que participariam de uma programação política naquele município, localizado ao Sul do Estado do Amapá. 

Segundo relatos de sobreviventes, por volta das 5hs da manhã do dia seguinte (26), a embarcação colidiu bruscamente com a Balsa Magalhães, que estava sendo guiada pelo empurrador Florezano Neto, abrindo um buraco de quase 2m do lado esquerdo do barco “Cidade de Óbidos I”, causando o rápido afundamento da embarcação. 

Durante o inquérito aberto pela Marinha do Brasil – através da Capitânia dos Portos do Amapá – não havia qualquer sinalização que identificasse a presença daquela balsa no local, o que pode ter contribuído inesperadamente para o trágico episódio. 

Morreram nesse naufrágio: Karina dos Santos Couri (18), Ana Cláudia Colares, Luan Richard Guiomar dos Santos (primo de Karina dos Santos Couri), de 12 anos; Alexandre Júnior Leite de 03 anos (filho de Ana Cláudia Colares); Arquimedes Afonso (segurança na Prefeitura de Santana), Vítor Santos (empresário), e Simone Teran (jornalista e esposa do então deputado estadual Manoel Brasil). 

Com excessão das três últimas vítimas citadas, as demais foram todas sepultadas em Santana.

Comentários

Postar um comentário