Creche em Santana levará nome de pioneira de eventos juninos

Quando ainda se realizava timidamente as festividades juninas apenas em ocasiões de programação escolar, uma professora de Santana decidiu colocar em prática a iniciativa de que os eventos que ocorrem anualmente no mês de junho deveriam se expandir em formato de ‘forrozões’. 

A idéia seria ousada e de alto custo para uma época em que parcerias não eram fáceis de se firmar, isso em meados da década de 1980. Mas para Sebastiana Ferreira isso não seria um empecilho para que realizasse tal façanha e até mesmo entrasse para a história dos eventos juninos da cidade. 

Toda sua determinação inicial e demais realizações foram o pontapé inicial para que muitos movimentos culturais se formassem ao longo das últimas três décadas, colocando sua trajetória como uma referência para as atuais gerações. 

E justamente reconhecendo esse importante trabalho deixado pela professora – falecida em 2010 – que o prefeito de Santana Bala Rocha sancionou uma lei municipal homenageando a pioneira, que terá seu nome patronado em uma creche infantil que está sendo construída no bairro Hospitalidade, em Santana. 

Para os familiares da pioneira, a homenagem tomada pelo Executivo demonstra a importância da história e do trabalho deixado pela professora Sebastiana Ferreira em prol da cultura de Santana. 

“Para ela não existia momento difícil quando se tratava de fazer algo a favor da cultura do nosso município, sempre se dispôs a está trabalhando e ajudando quem precisava, isso é visto pelos projetos sociais e educacionais que ela levantou”, disse Josicléia Ferreira, uma das filhas da homenageada. 

A vida de Sebastiana Ferreira 
A saga de uma mulher sem fronteiras que rompeu barreiras, venceu muitos preconceitos e gravou seu nome na história sociocultural do Estado do Amapá, mas precisamente em Santana. 

Nascida no dia 22 de junho de 1951, na cidade paraense de Afuá, Sebastiana dos Santos Ferreira, vinha ao mundo como uma autêntica cabocla amazônica, que ainda criança se mudaria para o então Território Federal do Amapá, fixando moradia na pequena vila portuária de Santana. 

Para esta terra abençoada, sua genitora lhe trouxe – juntamente com sua irmã – para aqui estudarem e ter mais oportunidades, na qual Sebastiana ainda trabalhou vendendo peixe para custear seu material escolar e ajudar sua mãe. 

Com o passar dos anos, cresceu, formou seu caráter guerreiro, casou-se, constituiu família, firmou suas raízes e foi pioneira no ramo cultural no município de Santana. 

Tendo um perfil batalhador e sendo uma mulher de visão, sua inquietude cativava todos ao seu redor, pois, retratava com perfeição os traços da legítima mulher brasileira, tudo isso sem deixar de lado a doçura, a delicadeza, a paixão, o amor e as responsabilidades de uma esposa e dona-de-casa. 

Com família formada, a cultura lhe interessava 
Formou-se como professora com duas Licenciaturas em Matemática e sendo também professora efetiva do quadro federal, na qual lecionou escolas tradicionais de Santana, como a Escola Elizabeth Esteves, Escola Augusto Antunes, Afonso Arinos e outras. 

Trouxe a luz do conhecimento a centenas de crianças, jovens, adultos e formando muitos desses alunos, não só didaticamente, mas também para o vida. 

Apaixonada pela arte, cultura e artesanato (enraizada em seu sangue), Sebastiana Ferreira deu início a principais manifestações folclóricas deste município, tendo como exemplo os primeiros ‘forrozões’ de rua de Santana. 

No ano de 1988, fundaria a Associação Folclórica e Recreativa Minha Flor, na qual seria pioneira e sagrou-se como a primeira marcadora mulher nos ‘Forrozões’ de Santana com o grupo ‘Minha Flor’ que há 33 anos revela novos talentos na arte da dança, sempre valorizando as tradições folclóricas. 

Surgiria outros projetos 
Sebastiana tinha um sonho de criar uma escola com o objetivo de oportunizar aos profissionais da educação que não tiha experiência, a garantia do primeiro emprego e assim dar oportunidade de uma educação de qualidade às crianças carentes. 

Foi então que em 2002, a professora formou uma equipe para ir nas áreas baixas do bairro Hospitalidade (e até adjacentes) para obter um diagnóstico de quantas crianças haviam na região que necessitavam está frequentando uma creche ou pré-escola. 

A partir deste diagnóstico, criaria no ano de 2003 o Centro Educacional Cacildo Pelaes, para atender crianças de famílias carentes, tendo deste momento em diante um trabalho educacional e social, que se ampliaria com as parcerias como o programa Mesa Brasil e com a Secretaria de Estado de Inclusão e Mobilização Social (SIMS), que ajudavam várias destas famílias, através da distribuição de alimentos, palestras e atividades desenvolvidas pelo projeto ‘Tupiniquins’, que trabalhava com crianças de 0-6 anos e o projeto ‘Repensando as Ações’, onde o público-alvo eram jovens na faixa etária de 7 a 17 anos de idade. 

Ainda nessa mesma época seria criado o grupo de dança Saruê (Sóciocultural) e a quadrilha mirim ‘Os Aventureiros do Norte’, nos quais ensinava desde cedo a valorizaçõa das raízes culturais de uma sociedade. 

Dona de uma preocupação ambiental invejável, Sebastiana também trabalhava cursos com técnicas de artesanato para ensinar o valor da preservação ambiental e a importância da reciclagem, no qual criou o projeto Reciclanato, que além de ajudar em nosso meio ambiente, ajudava famílias a ganhar seu sustento a partir da arte. 

Saúde debilitada 
Depois de tantas lutas, a saúde já não era a mesma, mas jamais pensava em deixar seu compromisso com as ONGs e com a quadra junina. 

Para quem a conhecia de perto, foi uma guerreira até seu último dia de vida, sendo que na tarde do dia 06 de junho de 2010, não resistiria às complicações que sua saúde apresentava e passaria para o plano supeior, deixando muitos corações em luto, justamente no mês que a mais fazia feliz (mês de Junho). 

Contudo, seu legado, sua mensagem de superação, força, esperança e amor, são levados em frente por seus seguidores que são familiares, amigos, sócios e simpatizantes, deste grande ser humano que em vida se chamara Sebastiana dos Santos Ferreira.




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