Desabamento em Santana: Mineradora garante que cumpriu normas de segurança em porto no AP

Dona do píer flutuante atingido por um desmoronamento de terra em 28 de março deste ano, no Porto de Santana, a cerca de 20 quilômetros de Macapá, a mineradora Anglo American garante que o volume de minério de ferro armazenado no local era inferior à capacidade de estocagem autorizada pelos órgãos responsáveis a partir do projeto apresentado pela empresa. 

Na madrugada do dia 28 de março, parte do terreno onde a empresa multinacional armazena toneladas do minério deslizou, causando a morte de quatro trabalhadores. Mais dois empregados continuam desaparecidos. 

O material caiu sobre o píer flutuante onde atracavam os navios que levam o minério para o exterior. Os entulhos atingiram caminhões, guindastes, parte do escritório da empresa e arrastaram para o fundo do Rio Amazonas seis trabalhadores que carregavam uma embarcação com destino a China. 

Questionado pela reportagem sobre a possibilidade do volume de minério armazenado ter provocado o deslizamento do talude (espécie de barreira de contenção inclinada de cerca de 7 metros de altura, feita no próprio terreno) e da montanha de quase 8 metros de altura de minério de ferro, a Anglo American informou à Agência Brasil que cumpre rigorosamente as normas e condições de seguranças exigidas, zelando pela integridade dos empregados. 

E que apresentou os estudos geotécnicos solicitados por todos os órgãos responsáveis por autorizar suas operações, bem como, agora, às autoridades que investigam o acidente. Em um relatório concluído esta semana, o auditor fiscal do trabalho, Franklin Rabelo, deslocado do Ceará para analisar o caso, aponta que a empresa não fez um estudo geotécnico para comprovar se a área onde vinha armazenando o minério era adequada. 

No relatório, o auditor aponta que a mineradora tem um laudo sobre análise de risco elaborado em 2007. O problema é que, após a data, a companhia transferiu os estoques para mais perto da margem do rio a fim de facilitar o carregamento dos navios. Com isso, sustenta o auditor, novos estudos quanto à estabilidade do talude e da consistência do solo no novo ponto de armazenamento deveriam ter sido feitos. 

O auditor do Ministério do Trabalho, órgão que determinou a interdição da área logo após o acidente, também descarta a hipótese de que uma grande onda tenha atingido a margem, virando embarcações e arrastando para o fundo do Rio Negro caminhões, guindastes, o escritório local da mineradora e seis trabalhadores. 

A Anglo American criou uma comissão composta por especialistas independentes e da própria empresa para analisar o ocorrido e identificar as possíveis causas, mas o trabalho ainda não foi concluído. 

Em entrevista à Agência Brasil, o delegado da Polícia Civil do Amapá, José Rodrigues Neto, responsável pelo inquérito, informou que, esta semana, representantes da empresa apresentaram as conclusões preliminares da comissão criada pela Anglo American.

O delegado, contudo, disse que o documento, mesmo que anexado ao inquérito, não tem valor legal. Com boa parte do empreendimento interditado, a empresa está impedida, por hora, de recuperar as instalações destruídas e normalizar suas atividades. A mineradora continua removendo os destroços do rio e tentando localizar sob os escombros os dois funcionários ainda desaparecidos - embora, oficialmente, as buscas tenham sido encerradas.

Enquanto avalia as soluções para normalizar as operações, a empresa ampliou a capacidade de estocagem de minério em outros locais, como Pedra Branca do Amapari. A mineradora também garante que está estudando a área do acidente para entender o que ocorreu e, assim, "incorporar os aprendizados às soluções que estão sendo avaliadas". 

A empresa garante que, junto com a companhia seguradora, já está em contato com os parentes das vítimas para encaminhar o pagamento de indenizações e demais benefícios trabalhistas. "Nosso foco principal tem sido o apoio aos familiares das vítimas e aos nossos colegas", diz a empresa na nota enviada à Agência Brasil.

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