1978: A história do amapaense que conheceu o líder que comandou o maior suicídio coletivo da humanidade

Jones (óculos) levou centenas de pessoas à morte
Há exatos 40 anos – ou seja, em 18 de novembro de 1978 –, o mundo testemunhou o maior suicídio em massa da sua história, idealizado pelo fanático religioso James Warren Jones (1931-1978), que também era conhecido como Jim Jones, em Jonestown, na Guiana. 

Quando as autoridades americanas e soldados ali chegaram a Jonestown, três dias depois do suicídio em massa, o cenário não podia ser mais terrível. 

Crianças estudando na comunidade de Jonestown
Para muitos, ficariam impressionados com a visão do Inferno que se transformou a bucólica colônia agrária do Reverendo Jim Jones. A comunidade estava fixada em meio à floresta amazônica, em território pertencente à Guiana. 

Cerca de nove centenas de corpos, entre homens, mulheres e crianças, em estado de putrefação, se espalhavam por toda parte. A maioria encontrava-se estendido pelo chão, fora das casas, com o rosto voltado para a terra. 

Muitas famílias estavam unidas num derradeiro abraço da morte. Vários corpos já tinham sido mutilados, tendo seus pedaços arrancados por famintos animais selvagens. Jim Jones que se dizia o herdeiro de Cristo e de Lênin, deixara a vida como a verdadeira imagem do Diabo. 

O Líder Jones 
Conhecido por milhares como Reverendo Jim Jones (mesmo sem nunca ter sido ordenado oficialmente), o mesmo fundou em 1955, o Templo do Povo, em Indianápolis, nos Estados Unidos. 

Aspecto da comunidade fundada por Jim Jones
Denominando-se equivocadamente evangélico, o líder do movimento começou a pregar sobre os conflitos étnicos e propagou teorias suicidas entre seus fieis latino-americanos e estadunidenses. 

Em seus últimos anos de trajetória, Jim Jones fundou a comunidade agrícola de Jonestown, no Noroeste da Guiana Inglesa; onde coordenou o suicídio de 918 pessoas de sua doutrina religiosa. 

O trágico episódio ocorreu horas depois dele ordenar a morte do senador norte-americano Leo Ryan (1925-1978), o qual tentou ajudar vários adeptos do movimento recrutados forçadamente. 

Jim rodeado por crianças da comunidade Jonestown
O mais chocante é que parte das pessoas morreram após tomar veneno voluntariamente, todos convencidos por Jones que dizia: “Se não podemos viver em paz, vamos morrer em Paz. Não é um suicídio coletivo, mas sim um suicídio revolucionário”. 

Depois do suicídio coletivo, Jim Jones foi encontrado morto com um disparo de arma de fogo na cabeça, provavelmente teria também cometido o seu próprio suicídio após induzir os seus fiéis. 

Um amapaense em ‘Jonestown’ 
Em dezembro de 2013, o blog entrevistou o aposentado amapaense Antônio Jonas de Souza, conhecido como Joca, que na época estava com 68 anos de idade. 

Na comunidade Jonestown haviam plantios
Com aparência calma, mas um olhar firme, seu Joca relatou detalhes de sua vida como próspero comerciante e homem influente que desempenhava um importante papel no mercado de ‘regatão’ e fornecedor de mercadorias no então Território Federal do Amapá, em meados da década de 1970. 

Sua capacidade de lhe dar no ramo do comércio lhe fez conhecer vários lugares do Amapá, vindo até mesmo a se fixar no município de Oiapoque em 1977, onde ali conseguiu confiança para atravessar até a região da Guiana Francesa. 

“Havia comerciantes de Caiena que me convidavam pra morar pra lá, mas não achava ainda uma região promissora como hoje muitos querem ir”, relatou o aposentado ao blog em 2013. 

Ainda durante suas constantes idas à referida região francesa, Seu Joca contou ter escutado histórias de uma comunidade religiosa, que residia numa fazenda bastante isolada das áreas urbanas dos franceses. 

A pedido de Jones, centenas de pessoas morreram
“Vendia produtos para alguns comerciantes que falavam de uma vila onde moravam somente pessoas que tinham interesse de fugir dos problemas da cidade grande, e que ali seria um tipo de refúgio para essas pessoas. Havia até brasileiros interessados em conhecer esse lugar”, disse. 

O aposentado que chegou à comunidade apenas com o intuito de deixar várias mercadorias que haviam sido encomendadas pelos gestores daquela conhecida fazenda, onde nada além de apenas deixar os produtos perecíveis seria tratado naquele lugar.

Centenas de corpos espalhados pela comunidade
“Lembro que foi duas semanas antes de acontecer aquela tragédia na região que fomos deixar as compras na fazenda. Era uma área que ficava bem isolada de qualquer lugar, seguia-se numa estrada de chão por quase uma hora pra chegar lá. Quando chegamos, havia dois homens armados no portão de entrada que nos perguntou do que tratava e falamos sobre as mercadorias compradas para aquela fazenda, foi aí que liberaram nossa rápida entrada no local”, contou seu Joca que descreveu o cenário precário que viria dias antes ao fatídico dia. 

“O que ainda cheguei a ver foi duas tendas grandes que foram construídas e ali estavam cheias de redes, com certeza muitas pessoas dormiam bem apertadas naquele espaço. Outra coisa que vi muito rápido foi a quantidade de crianças que tinha no local, eram muitas que andavam chorando”. 

Corpos resgatados por militares franceses
Cara-a-cara com Jim Jones 
O amapaense relembra o momento que ficou de frente com o homem que ficaria mundialmente conhecido como o ‘Pastor do Diabo’. 

“Ele (Jim Jones) se aproximou de mim logo que cheguei à fazenda com os produtos que seriam ali consumidos. Falava de modo manso, em francês, nos convidando pra ficar e dormir na fazenda, eu neguei na hora”, falou o aposentado, que ainda chegou a cumprimentar o líder religioso com um aperto de mão, na qual nunca esqueceria aquele gesto. 

Semanas após está na Fazenda da Jim Jones, seu Joca tomou conhecimento pela imprensa francesa sobre o suicídio coletivo, que resultou na morte de quase 1 mil pessoas.

“Não falavam em números exatos de mortos, somente dias depois que deram a informação certa que ficava perto de mil mortos. Isso causou muito comoção na Guiana e até na fronteira com o Oiapoque”, lembra. 

Ainda naquele ano de 1978, o amapaense retornou para a lado do Brasil, se distanciando dos contatos comerciais com aquela região francesa, vindo a morar por muitos anos na capital e atualmente reside no município de Calçoene, onde nasceu. 

Um de seus filhos, Luis Durval, mora em Santana e essa semana o blog o localizou para comentar o assunto. 

Durval disse que o pai continua morando em Calçoene e há quase dois meses não costuma vim à capital, por considerar mais pacato de ficar em lugares interioranos. 

“Ele quase não gosta de vim à cidade, se acostumou a viver no meio do silêncio como sempre gostou, nasceu ali e pra vim nos visitar é bem pouco, isso quando vamos lá busca-lo”, falou o filho ao blog.

Comentários

  1. Excelente reportagem , parabens ao blog. Não sabia desse trágico acontecimento.

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  2. Uma volta ao passado. Eu era bem jovem mas lembro dessa tragédia!

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