Em 1958, a ICOMI foi acusada de liberar combustível e veículos a candidato do Governo do Amapá

ICOMI teria liberado gasolina ao Governo do Amapá
No início de outubro de 1958, o então Território Federal do Amapá viveria sua 4ª eleição para eleger um único representante à Câmara Federal do país, conforme regia pela Constituição Federal da época. 

Concorriam no pleito dois candidatos, sendo um do PTB (Dr.º Dalton Lima) e outro do PSD (Dr. Amilcar Pereira), onde este último tinha forte apoio político do governo amapaense. 

O advogado Dalton Lima, que prestava serviços na agência local do Banco do Brasil, se notabilizava na comunidade amapaense por seu desempenho profissional, cobrando judicialmente inúmeras pendências trabalhistas contra a mineradora ICOMI, que explorava o minério de manganês existente na região de Serra do Navio. 

Ganhou mais força popular ingressando como advogado do Sindicato dos Trabalhadores na Indústria de Extração e Ferros e Metais Básicos do Território do Amapá. 

Dr. Dalton Lima, candidato do PTB
Já o Dr. Amilcar Pereira, empenhava o cargo de deputado federal – eleito de modo unânime naquele mesmo ano devido à morte do deputado Coaracy Nunes – e buscava a reeleição. 

Amilcar tinha o apoio indireto do clã da família Nunes, que incluía Janary Nunes (1º governador do Amapá e então presidente da Petrobrás) e do seu irmão Pauxy Nunes (este que governava o Território do Amapá). 

Durante quase dois meses, a campanha eleitoral entre esses dois candidatos foi bem acirrada. O petebista Dalton Lima ganhou grande prestígio do povo local até o dia da eleição, ocorrida em 03 de outubro daquele ano. 

Tanto que durante a apuração – já que o Território tinhas apenas cinco municípios na época –, o candidato do PTB vencia nas urnas nas cidades Macapá e Mazagão, convicto de que aquela eleição estava conquistada pelo seu candidato. Mero engano. 

Considerada oposição da época, o PTB esqueceu de fiscalizar as urnas dos demais municípios (Oiapoque, Calçoene e Amapá), o que inverteu no resultado da contagem dos votos, sendo Dr.º Dalton Lima derrotado pelo candidato à reeleição Amilcar Pereira. 

O resultado final causou surpresa ao PTB que, de imediato, recorreu ao Tribunal Regional Eleitoral do Distrito Federal, pedindo a impugnação de algumas urnas em comunidade pertencentes aos municípios de Amapá, Calçoene e Oiapoque, mas tiveram o recurso negado. 

ICOMI emite nota sobre as denúncias feitas
ICOMI é acusada 
Em 12 de outubro de 1958, em paralelo ao recurso na Justiça Eleitoral, o candidato derrotado do PTB Dalton Lima e o presidente do partido Mário Ramos denunciaram no jornal paraense Folha do Norte (desta data) que a multinacional ICOMI participou ativamente da campanha eleitoral, fornecendo veículos e combustíveis ao candidato pessedista. 

“Possuo recibo da ICOMI, debitando o Governo (do Amapá) por gasolina fornecida e gasta pelo PSD”, descrevia as palavras de Dalton Lima, capa do circulante. 

Sob o título “Fraude e Coação nas Eleições do Amapá”, o jornal paraense também publicou a denúncia de que o então governador amapaense Pauxy Nunes teria tentado impedir o juiz da comarca de Mazagão, Jarbas Amorim Cavalcanti, que igualmente presidisse as eleições no município de Macapá, por este não aceitar as propostas de fraudar o pleito.

Governo e ICOMI se defendem 
Em 29 de outubro de 1958, vendo a forte repercussão das denúncias do candidato do PTB, o Dr. Apolinário Costa (representante do governo amapaense) enviou um ofício à gerência da ICOMI do Amapá, solicitando respostas sobre os questionamentos colocados nas denúncias. 

Entre os esclarecimentos pedidos, o Executivo pede informações de “quem liberou esse combustível” e “quando ocorreu essa liberação”. 

A mineradora – que tinha como gerente local o Dr. Robert D. Butler – enviou resposta no dia 08 de novembro ao ofício do Governo do Amapá, dizendo não haver qualquer conhecimento oficial de tais denúncias, deixando claro que todas as informações divulgadas na imprensa paraense eram improcedentes. 

“Esta empresa não debitou o Governo por gasolina ao PSD, não tendo sequer colocado qualquer veículo à disposição desse partido”, disse a nota divulgada pela mineradora. 

A liderança petebista chegou a protocolar tais denúncias no TSE, na tentativa de consubstanciar o recurso de impugnação que já impetrava. 

Porém, todas as denúncias impetradas por Dalton Lima não foram acatadas pelos desembargadores analisadores da questão que, no dia 10 de novembro de 1958, por unanimidade consideraram-nas improcedentes e irrelevantes.

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