Dalila Pires: Uma mulher que ajudou na fundação da 1ª igreja evangélica em Santana

2003: Foto tirada no dia que conheci a pioneira
Na semana que passou a Igreja Evangélica Assembleia de Deus da cidade de Santana alcançou seu Jubileu de 60 anos de prestação de serviços ligados ao evangelho e ao crescimento espiritual do povo do segundo maior município amapaense. 

Na ocasião me lembrei de ter tido uma grande oportunidade em 2003 de conversar pessoalmente com uma pioneira que muito contribuiu para a construção desses trabalhos, onde essa pessoa muito me cativou dentro das poucas horas que tivemos para falarmos de tantos assuntos. Me refiro à Dalila Pires de Souza, viúva do fundador da igreja em Santana. 

Em julho de 2003, num domingo, durante o encerramento do 25º Congresso da UMADSAN, na cidade de Santana, fui apresentado à esta humilde mulher, que estava sentada em frente de sua residência – localizada bem na frente ao Templo da Assembleia de Deus de Santana – assistindo ao evento, de modo tão atenta e cautelosa. 

Sempre ouvia falar de sua participação da história assembleiana, mas está de frente com esse mito em pessoa seria algo mais do que um grande prêmio. Devido está com atenção concentrada ao evento, conversamos por alguns minutos e lhe perguntei se me permitia entrevista-la no dia seguinte. 

A forte veterana não se hesitou em confirmar a entrevista, o que muito me alegrou. Na tarde do dia seguinte cheguei novamente em sua modesta casa, onde fui bem recepcionado. 

AD enfrentou grandes desafios nos primeiros anos
Por incrível que muitos não acreditem, mas mesmo estando com mais de 80 anos carregados em sua vida, Irmã Dalila – como posso assim considera-la – se lembrou de mim do dia anterior e já havia até preparado um café para assim conversarmos calmamente.

Como na época usava aqueles gravadores com fita K-7, nossa ‘prosa’ consumiu quase três fitas de depoimentos, somando um total de 3hs de registros. 

Do longo depoimento, ela lembrou de como conheceu seu esposo – Pastor Serafim Pires de Souza (1910-1993), de como se converteram aos caminhos de Jesus e como foram parar no Amapá em 1957. 

Da sua chegada ao então Território amapaense, Irmã Dalila contou que já havia uma família na região de Santana que se dizia evangélica. 

“Eles pareciam muito desconfiados quando falávamos sobre a nossa igreja, como se não quisessem reconhecer esse amor com Jesus”, diz a pioneira em um trecho do depoimento gravado. 

Pastor Serafim de Souza (1910-1993)
Mesmo já tendo enfrentado outros caminhos para expandir o evangelho no Amapá, Irmã Dalila disse que houve muitos empecilhos para que a entidade crescesse moralmente na região. 

“Bem poucas pessoas acreditavam nesse nosso trabalho, e o dinheiro quase não dava para nos mantermos. Não tínhamos apoio de ‘igreja-mãe’ como muitos falam e caminhávamos de modo lento”, detalhou. 

Em vários trechos do depoimento gravado – onde demonstra suas emoções – a pioneira relembra as vezes que o companheiro teve que viajar para localidades, com o propósito de evangelizar e precisava ficar dias sem vê-la. “Falavam muito que tinha onças nessas matas e algumas pessoas já tinham sido atacadas. Temia que algo acontecesse com ele, mas Deus lhe protegia.” 

Quando lhe perguntei se chegou a ter vontade de desistir da missão evangélica, não pensou em me responder: “Se Jesus não parou de pregar, não faríamos o mesmo”. 

Entre outros desafios enfrentados estava a construção da primeira igreja local, pois, os cultos eram inicialmente realizados em um pequeno espaço cedido em sua casa, que em pouco tempo já não comportava mais o elevado número de fiéis. 

Primeiro Coral Evangélico de Santana
“Conseguimos comprar (parcelado) um terreno em frente de nossa casa e tínhamos um desafio de construir uma igreja ali o quanto antes. Aí veio um grande desafio pra nós”, exaltou a pioneira. 

Como havia citado antes, Irmã Dalila disse não haver recursos suficientes para a construção da igreja pioneira, o que levou seu esposo a vender uma casa de sua propriedade (em Belém-PA) para a conclusão da obra no Amapá. “Foi muita luta que tivemos para encontrar as primeiras vitórias somente depois de muitos anos.” 

Com a conclusão do 1º Templo em 1967, outras casas de oração começaram a surgir e em menos de uma década já havia quase 10 igrejas evangélicas espalhadas na pequena vila portuária de Santana. 

“Cada passo que aparecia uma igreja nova, meu esposo estava lá acompanhando todos os passos. Nada saía sem o consentimento dele”, disse Dalila. 

As reuniões sempre foram marcantes na AD
Participação Feminina 
Outro ponto que Irmã Dalila procurou citar durante seu depoimento foi a realização dos primeiros eventos evangelísticos na cidade, que tiveram a maciça participação da classe feminina da igreja evangélica. 

Por volta de 1970 foi criado o que seria o primeiro grande ‘Círculo de Oração” de Santana, composto por quase 80 mulheres, que realizavam pregações e cantavam hinários em casas de famílias que muitas não seriam adeptas pentecostais. 

“Havia muita disposição das mulheres da igreja quando se tratava de ajudar as pessoas mais carentes, não tinha esse negócio de não fazer por que não era da igreja, tudo seguia uma ideia, ajudar o próximo”, considerou. 

Dalila disse que reuniões semanais procuravam organizar os cultos da mocidade e das mulheres no âmbito da igreja, havendo visitas residenciais que eram coordenadas pelos grupos femininos. “A igreja é uma família e nós mostrávamos como era essa família para outras.” 

Seu afastamento 
Irmã Dalila conta que no final da década de 1970, seu esposo começou a apresentar os primeiros problemas sérios de saúde, o que lhe obrigou a reduzir sua participação pessoal dentro das decisões administrativas da igreja evangélica em Santana. 

2003: Foto ao lado de Dalila Pires
“Muita coisa foi decidida sem ele saber. Foi pego de surpresa quando soube que nomearam pessoas para ficar no lugar dele quando se afastou para fazer tratamento”, relembra Dalila, emocionada. 

Com o afastamento do fundador da 1ª igreja evangélica do cargo majoritário, Irmã Dalila também foi sendo pouco procurada, ficando no ostracismo institucional. 

“Sei que muita coisa foi dita para destruir o trabalho que meu esposo fez, mas Deus sabe o que aconteceu de verdade. Não guardo magoa de ninguém, respeito muito os outros e sei que aquilo que começamos está sendo bem caminhado hoje”, reconheceu. 

A paciência e a dedicação tomada pelo casal de missionários Serafim e Dalila dentro da história da implantação da igreja evangélica do Amapá se tornou em um importante material que foi colhido pela Secretaria Nacional das Assembleias de Deus do Brasil que, em março de 1987, colheu o depoimento do casal para catalogar em arquivo institucional.

Já a entrevista que fiz com essa pioneira – que infelizmente nos deixou em 2008 – foi convertido para CD, onde mantenho a cópia guardada a ‘sete chaves’, na qual irei disponibilizar ao público em breve.

Comentários

  1. Parabéns, vc faz a História acontecer. Qd tivermos um museu todo o teu trabalho e legado ficará expostos para apreciarmos. Essa é a história da minha família, obrigada por contá~la.

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  2. Meu tio Pr. Sozinha como era conhecido e minha tia Dalila ...saudades...

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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  4. Muito bom conhecer como o trabalho evangelístico iniciou no Município de Santana. Que a obra continue todos os dias e possamos lembrar destes grandes missionários de Cristo e nos inspirarmos na sua fé e força para desenvolver a obra de Deus.

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