No passado, mães e senhoras tomaram forte participação no assistencialismo de Santana

Reunião da Assvam no auditório da Vila Amazonas
Durante os anos iniciais que a mineradora ICOMI passou a exportar nossa principal riqueza mineral (manganês), ainda no final da década de 1950, o número de mulheres que integravam o quadro funcional da mineradora era bem pequeno. 

Dos mais de 1.200 empregados distribuídos nos escritórios de Serra do Navio e Santana, não chegava a 15% o quantitativo de mulheres lotadas na mineradora, e assim mesmo, elas estavam restritas em apenas duas funções: ou estavam nas enfermarias dos dois hospitais da empresa, ou lecionavam em uma das escolas primárias das vilas operárias da ICOMI. 

Quem freqüentou o educandário da Vila Amazonas há mais de meio século deve se lembrar de nomes inesquecíveis de suas renomadas professoras, que vinham diretamente contratadas do Sul e Sudeste do país: era Ida Rossi, Aparecida Arruda, Lúcia Villa-lobos, Lídia Gomes e muitas outras pedagogas que ajudariam na formação de centenas de futuros cidadãos amapaenses. 

Mas não era apenas naquele conjunto habitacional de primeiro mundo que boas educadoras escreveriam seus nomes na história da educação santanense. Em um lado suburbano e menos favorecido (diga-se ao conglomerado de casebres de madeira que originaria a histórica “Vila Maia”), encontraríamos outras humildes mulheres que também lecionavam para um grupo incontável de crianças de diversas faixa-etárias, que freqüentavam diariamente uma pequena casa de madeira construída ao lado do salão paroquial da única Igreja Católica daquele vilarejo próximo da ICOMI. 

Essas desbravadoras que arregaçavam as mangas para educar os inúmeros filhos dos operários icomianos nos lembram o nome de conhecidas instituições públicas de ensino de nossa cidade: Iranilde Ferreira, Ilnah Souza, Maria Colares, Damariis Pestana, Raimunda Oliveira e até Elizabeth Esteves. O nome da lendária professora Gentilla Nobre não é familiar? 

Mesmo separadas pela desigualdade sócio-educacional, essas maravilhosas criaturas do chamado “sexo frágil” tinham algo em comum: buscavam serem unidas pelas causas humanitárias e ao assistencialismo dos mais carentes. 

Um fato claro desta atitude viria por um grupo de mulheres, em sua maioria, esposas de funcionários do alto escalão da ICOMI, que criariam a Associação das Senhoras da Vila Amazonas (ASSVAM), numa importante reunião organizada somente por mulheres da Vila Amazonas, e oficializada em 20 de fevereiro de 1963. 

Sua primeira diretoria estaria constituída por Edmilsen Pessoa (Presidente); Gilda Stevens (vice-presidente); Petronilha Olliani (tesoureira); Maria da Glória Mercer (assistente social); Wilma Fróes Alves (diretora social); e Herta Butschowtiz (secretaria). 

Vale ressaltar que Herta Butschowtiz (que também integrava a diretoria da ASSVAM) foi quem idealizou o primeiro grupo de escoteiras bandeirantes de Santana, em 1964, denominado de Companhia “Alice Déa Nunes”, na qual ficou sob seus cuidados até 1975, quando sua família se mudou para o Rio de Janeiro (RJ). 

Mas ainda com relação à ASSVAM, essa entidade sem fins lucrativos se tornaria um marco na realização de ações sociais que beneficiariam dezenas de famílias carentes, chegando até mesmo a enfrentarem o preconceito da classe masculina quando tentavam formalizar sua autonomia institucional. 

Foi através das ações da ASSVAM que o Padre Ângelo Biraghi conseguiu manter moralmente o funcionamento da Escola Paroquial de Santana em seus primeiros anos (ainda na década de 1960), quando aquele estabelecimento primário nem sequer tinha estrutura física para funcionar, sendo que a ASSVAM promoveu 02 bingos na Vila Amazonas para arrecadar fundos que serviram para a construção das 04 primeiras salas de aula da escola que hoje conhecemos como Escola Estadual Padre Simão Corridori.

Comovidas pela mesma razão, um grupo de mulheres também se reuniu na distinta Vila Maia e, em maio de 1969, fundaram o Grupo de Senhoras e Mães da Vila Maia, que elegeu a professora Gentilla Nobre para ser a primeira presidente. 

Assim como a co-irmã da vila operária da ICOMI, o Grupo da Vila Maia reteve seu trabalho voltado para a sociedade menos assistida, onde realizaram eventos (rifas, bingos) para a reforma das escolas Barroso Tostes e o pequeno Grupo escolar que funcionava na Ilha de Santana, assim como desenvolveram diversas campanhas de vacinação de crianças e adultos em visitas feitas nas comunidades adjacentes, como na Vila Toco, Vila Daniel, Toquinho, Duplex, Matadouro, Fortaleza e Ucuúba. 

Por infelicidade do destino, essas duas entidades assistenciais de Santana só puderam se encontrar formalmente por uma única vez, isso em dezembro de 1970, quando foram incumbidas de organizarem os festejos de final de ano de seus vilarejos que, apesar de terem uma grande diferença em suas estruturas sociais, conseguiram marcar uma audiência com o governador do então Território Federal do Amapá General Ivanhoé Martins e pediram o apoio do Executivo para a decoração natalina das vilas Maia e Amazonas e aquisição de brindes e brinquedos a serem distribuídos durante as festividades. Os pedidos foram todos atendidos. 

Com o desaparecimento dessas duas entidades filantrópicas, outros grupos formados somente por mãe e/ou mulheres surgiriam na cidade de Santana entre as décadas de 1980 e 2000, que seriam agora denominadas de Associações de donas-de-casa, Associação de Mulheres de bairro e até Grupo Fraternais de Mulheres religiosas.

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