PM morto em 2016 torna-se patrono de Base Policial: “Foi ele que construiu com suas próprias mãos”

PM morreu em outubro de 2016
O Comando da Polícia Militar do Amapá vai entregar na manhã desta terça-feira (07/02), a nova Unidade de Policiamento Comunitário no distrito da Ilha de Santana. 

A obra apenas seguiu a reconstrução da antiga Base Policial da localidade, que já apresentava uma estrutura considerada precária, tanto em termos físicos como higiênicos. 

“Os policiais que ficavam de plantão tinham que suportar as péssimas condições desse lugar, e quando chovia que era pior”, conta o autônomo Marcelo Gonçalves, morador da Ilha, que chegou a questionar várias vezes com os policiais-plantonistas sobre a estrutura do local. “Ainda brinquei com alguns policiais dizendo que essa base ia cair na cabeça deles”. 

A citada Base foi originalmente construída em meados da década de 1990, servindo também como abrigo para os policiais que faziam rondas periódicas na Ilha de Santana e nas comunidades ribeirinhas adjacentes. 

Base Policial reconstruída na Ilha de Santana
Em 2004, a Base Policial ainda chegou a passar por pequenos reparos físicos, mas se manteve na mesma estrutura (de madeira). 

Iniciativa
No final do ano de 2015, uma equipe de policiais, escalada para servir nos plantões naquela Base Policial, entre eles, estava o iniciante SD Jefferson Cunha – conhecido no Comando como J. Cunha. 

Mesmo ingressado na corporação em 2011, o novato já demonstrava seus traços de líder e cidadão organizado. Tanto que ficou à frente da ideia de reformar a antiga Base Policial, como forma de melhor atender aos anseios daquela localidade rural. 

J. Cunha acompanhando as obras na Base Policial
“Na época ele levou a ideia de derrubar e construir uma nova base até o conhecimento dos seus superiores que aprovaram logo de cara”, conta Diene Rodrigues, viúva do saudoso policial, falecido de forma inesperada em outubro de 2016

Segundo Diene, J. Cunha ficou incumbido de providenciar a construção da nova Base Policial em um curto tempo, independente dos imprevistos que pudessem ocorrer. 

“O Comando abraçou a ideia, e apesar da falta de condições financeira para a construção de uma sede policial, ele (SD J. Cunha) assumiu a responsabilidade dessa obra”, continuou Diene. 

Como toda obra de vinculo público, o desafio assumido por J. Cunha não seria diferente. Além da parte material – que condisse na arrecadação de todo o aparato referente à sua construção – também coube ao militar a disponibilidade da mão-de-obra que ficaria a cargo desse serviço. 

A Base Policial praticamente concluída
“Havia um prazo para que toda a reconstrução dessa Base fosse entregue o quanto antes, e ele corria contra o tempo, apesar de está ganhando vários apoios”, reconheceu Diene. 

Em relação ao apoio recebido durante o ousado projeto de reconstruir aquela Base Policial, pode-se dizer que moradores residentes na Ilha de Santana procuravam ajudar o militar J. Cunha de alguma forma, tudo em prol daquela magnífica obra. 

“Podia tá um sol escaldante ou chovendo forte, ele não abandonou o objetivo de ver aquela Base pronta”, enfatizou. 

Segundo moradores da Ilha e amigos mais próximos do policial, não se tem um cálculo oficial dos valores que foram gastos na obra de reconstrução daquela Unidade Policiamento, que incluía todo o processo de demolição e reformulação física, além da mão-de-obra utilizada nela. 

Jefferson também atuou como maquinista
“Toda ajuda que vinha era bem aceita pelos militares, tudo para que a obra da Base fosse entregue de imediato, e dentro dessa força que recebia que mais de 80% ele conseguiu agilizar”, disse Diene. 

O sonho de ver aquela Base Policial funcionando sob nova estrutura física foi parcialmente se concretizando diante dos olhos de cada pessoa – sendo ela um militar, ou um simples cidadão civil – que viu a colocação de cada tijolo montado nas paredes laterais, porém, o principal idealizador de toda essa nova imagem física para a instituição militar situada na Ilha de Santana não viria seus propósitos concluídos, vindo a ser vítima de uma ironia do destino, quando morreu em outubro de 2016. 

“Ele não apenas se mostrou presente a todo instante como um encarregado ou mestre de obras, foi ele que não verdade começou a construir com suas próprias mãos, ajudando na compra dos materiais de construção e demonstrando sua capacidade de líder diante das dificuldades”, esclareceu um PM que trabalhou ao de J. Cunha por mais de cinco anos, preferindo não se identificar. 

Homenagem
Mais do que uma justa homenagem àquele que não apenas serviu com uma farda de respeito e coragem pelo Estado do Amapá, como também relacionado a um grande cidadão público que esteve à disposição da comunidade santanense nos momentos mais perigosos e arriscados socialmente. 

J. Cunha ladeado pela esposa e filhos
Natural de Breves (PA), Jefferson Luis Silva da Cunha nasceu no dia 21 de setembro de 1985, sendo o 2º de um prole de cinco filhos gerados no matrimônio de Valdete e Silva da Cunha com Hideraldo Luiz Cavalcante da Cunha.Sua família se mudou para o Amapá no início da década de 1990, indo residir no recém-criado município de Santana. 

“Moramos um bom tempo na conhecida Baixada do Ambrósio, numa casa cedida pelo famoso Ambrósio”, contou Débora Fernandes, irmã do saudoso PM. 

Ainda com nove anos de idade, conquistou a confiança de um amigo de longa data para assim confinar em seu 1º emprego, apesar que não podia assumir publicamente está sendo contratado por ser de idade minoritária, mas era bastante reconhecido pela dedicação que atuava como auxiliar numa oficina de bicicletas. 

“Pense numa pessoa totalmente dedicada nos seus objetivos, assim era o Jefferson, independente de ser fácil ou difícil, ele enfrentava o desafio”, comentou a irmã. 

J Cunha carregando seu casal de filhos
Como bom trabalhador, também era um ótimo aluno nas escolas estaduais de Santana por onde passou, como o Ribamar Pestana e Barroso Tostes puderam testemunhar o seu interesse nos estudos. 

Atuou nas áreas de panificação (padeiro e confeiteiro), de cozinha coletiva (garçom e ajudante de cozinha) e até dirigiu maquinas ferroviárias (maquinista de locomotivas). 

Seu destino lhe pairava com planos ligados à área profissional quando decidiu completar sua vida em termos sentimentais, colocando em seu caminho uma mulher chamada Diene Coelho Rodrigues que, em 2007, se tornaria não apenas uma esposa atenciosa, mas também sua maior incentivadora e responsável por diversos passou que Jefferson tomaria de maneira positiva para a sua vida. 

O apoio inseparável da companheira lhe levou a ingressar no quadro da Polícia Militar do Amapá em outubro de 2011, também lhe incentivando em outros projetos pessoais, como na conclusão do Curso Superior de Filosofia. 

Outro grande presente dado pelo destino ao jovem PM foi um casal de filhos com sua companheira: teriam Heloíse Sofia Rodrigues da Cunha (de 02 anos) e Victor Luiz Rodrigues da Cunha (de apenas 09 meses). 

Com vários planos agendados em seu caminho, o destino desta vez tomaria uma atitude nada agradável, que causaria um forte impacto social e familiar: na manhã do último dia 26 de outubro, quando seguia em sua motocicleta em direção à Macapá, com objetivo de marcar uma consulta para sua esposa, seria fatalmente atingido por uma Corrier, sendo lançado há vários metros sob o asfalto, vindo a falecer instantaneamente. 

Sua perda não apenas abriu uma lacuna infinita de dor naqueles que sempre o viram presentes nas horas mais difíceis, mas colocou dentro de inúmeros corações a imagem daquele que em vida não poupou forças para buscar o melhor para uma sociedade mais digna e segura.

Comentários

  1. Lembro muito bem que passei bem próximo ao acidente,na vdd vi tudo de um quarteirão antes,muito triste...quando ao dono da Corrier,foi punido?vejo que não,mas enfim,a vida vai punir.

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  2. Muito triste ��,o PM jovem e com tantos planos tendo sua vida ceifada, deixando familia e sonhos... Parabéns a corporação e a PMAp por essa justa homenagem.

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  3. PARABÉNS PELA INICIATIVA DE HOMENAGEÁ-LO JUNTAMENTE COM TODA SUA FAMÍLIA, ALGUMAS PESSOAS PASSAM POR PROFISSÕES E SÃO DESPERCEBIDAS, MAIS HOJE VEJO QUE A POLICIA DO AMAPÁ NUNCA DEIXA DE RECONHECER SEUS HERÓIS E ISSO É ÓTIMO E QUE SIRVA DE EXEMPLO PARA OUTROS SETORES PÚBLICOS! PARABÉNS POLICIA MILITAR DO ESTADO DO AMAPÁ.

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  4. Linda homenagem feita ao meu amigo Jéferson cunha que lamentávelmente se foi para os braços do pai.

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  5. Meu brother desde 2006 quando estudávamos no SENAI no projeto Trainee Operador Ferroviário da MMX. Conversávamos muito sobre vários assuntos, apesar de sua saída da organização para o GEA, sempre trocávamos ideias pela rede social, eu, ele e o Adriano. rsrs ríamos de tudo. O cara sempre foi gente boa. Hoje está em nossas memórias e parabéns à corporação que fez tal homenagem. Abraços Diene.

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