Naquele dia de 1957, JK entregava um Porto de Minérios em Santana

Em 1957, Presidente JK descia em Santana
Na manhã do dia 05 de janeiro de 1957, o então Presidente da República Juscelino Kubitscheck participava das solenidades de inauguração do Projeto ICOMI no Território Federal do Amapá, que contou com a grandiosa construção de uma ferrovia com 200km de comprimento, instalações operacionais e portuárias, além da contratação de mais de 900 trabalhadores. 

Com a presença de mais de 110 pessoas das mais altas posições sociais e militares, teve forte cobertura da imprensa nacional que enviou mais de 30 profissionais de jornais de grande circulação (O Globo, Jornal do Brasil, Estado de São Paulo e outros). 

Entre esses renomados profissionais da comunicação brasileira, estava o jornalista paraense Ossian Brito, que esteve a todo momento caminhando lado-a-lado com o Chefe da Nação e relatou semanas depois – para o jornal “Folha do Norte”, de Belém (PA) – o roteiro daquela histórica visita presidencial ao Amapá: 

1947: Augusto Antunes e Capitão Janary Nunes
A história da descoberta das minas de manganês, no Amapá, tem a sua semelhança com a das grandes descobertas, onde aparecem os aventureiros levados pelo fascínio do ouro. Resultado da ambição do homem. 

O Território dava seus primeiros passos. O então governador Janary Nunes anuncia um prêmio a quem, do interior, lhe trouxesse amostras de ferro. Tudo indicava que no Amapá havia ferro, especialmente na zona do Rio Amaparí. 

Mário Cruz foi um caboclo como centenas de outros que, atraídos pela oferta de Janary, embrenhou-se pela mata virgem, para colecionar toda espécie de pedra, um barro que encontrasse. Assim invadiu as selvas. 

Um dia reapareceu em Macapá. Trazia várias amostras de tudo o que encontrara. Foi à presença do governador. Disse que na Serra do Navio havia umas rochas de uma coisa dura, parecida com ferro. 

Janary examinou-as. Levou-as ao Rio de Janeiro. Era Manganês. E pagou 20 mil cruzeiros, valor prometido àqueles que trouxessem as amostras. 

1955: Vista aérea das instalações portuárias da ICOMI.
Comprovada a existência do manganês, passou a outra fase, e a mais importante: saber da capacidade das jazidas, se interessava ou não comercialmente a sua exploração. 

Conclusão a que chegaram os técnicos: em 50 anos as minas da Serra do Navio ainda estarão produzindo. Fabulosas. Somente assim se justifica a inversão, pela ICOMI, de milhões de cruzeiros nas obras do Porto de Santana e na Serra do Navio, onde se chega depois de percorrer 200km de uma moderna estrada de ferro, bitola larga. 

Navio chegando à Santana, levando o Presidente
Nunca julgamos que o (então) Presidente da República Juscelino Kubitscheck quisesse ir à Serra do Navio, ver de perto aquele mundo de riquezas. A cerimonia de inauguração das instalações do Porto de Santana – naquele dia 05 de janeiro de 1957 – com discursos, terminou quase ao meio dia. 

Estava programado um almoço à americana, mas o presidente aproveitou o tempo, num dia quente, sol a pino, para percorrer as instalações da ICOMI. 

Quando deu pelo relógio, sem comer, já era quase uma hora da tarde. Só tiveram tempo de reunir sanduiches, garrafas de água mineral e colocar dentro de uma litorina. 

Nove pessoas tomaram o carro: o presidente JK, o Coronel Janary Nunes, o deputado Coaracy Nunes e o governador Amilcar Pereira. Não havia lugar para os jornalistas. Imediatamente a ICOMI mandou preparar um moderno comboio, dois troles ao ar livre para os elementos da imprensa. 

E assim, viajando à frente do carro presidencial, com um sol de rachar, começamos a viagem para a Serra do Navio. Duzentos quilômetros de trem é coisa para ser vencida no mínimo em 04 horas. Ida e volta, oito. 

JK cumprimentando Augusto Antunes (ICOMI)
A ICOMI deve, no futuro, dispor de uma condução melhor para os seus visitantes. Não é possível sujeita-los a uma viagem enfadonha, sem conforto, com a feita pelo presidente. 

Por quê não construir um pequeno campo de pouso para aviões teco-teco? A litorina é pior do que os troles. A única vantagem é ser coberta. Mas o motor, colocado no seu interior, faz um barulho dos diabos. 

Martírio! Quase no meio da viagem, o trole dos jornalistas deu o “prego”. Levou 15 minutos para vencer o enguiço. Foi quando, demonstrado ligeiro cansaço – e não era para menos, pois desde os primeiros minutos do dia 03 que JK viajava dia e noite – já estávamos no dia 05 – o presidente saltou da litorina, em mangas de camisa, simples como ele, e foi dar o seu palpite no “prego” do trole que nos conduzia. 

JK perguntou se o pessoal estava cansado. Resposta afirmativa, mais pelo sol que nos castigava. JK levou a mão à cabeça, tirou seu chapéu e cobriu o locutor Teófilo Vasconcelos. Dirigindo-se à turma: “Se tivesse outro, daria a outro. Que castigo, hein?!” E demonstrando preocupação pelo que via, perguntou: 

Para a época, maior estrutura de embarque do país
– Querem continuar, ou preferem parar?
– Vossa Excelência é que resolve, onde Vossa Excelência for, estaremos nós, responderam.
– Bem, se é assim, vamos até o fim.Minutos depois, o motorista tirava o “prego”. 

E reiniciávamos a marcha. No km-108, paramos em Porto Platon, primeiro acampamento da ICOMI. Rápida visita ao hospital, às residências. A ICOMI oferece conforto aos seus auxiliares. É a tradição americana, indiferente ao fim do mundo onde estão. 

Até Porto Platon há uma estrada de rodagem, ligando Macapá. Porto Platon tem um hospital completo. Dali para diante, somente o caminho de ferro. Mais 92km. 

Às 17hs, chegamos à Serra do Navio. Na se pode descrever o que seja aquilo. Topa-se manganês por todos os lados. A ICOMI mobilizou recursos em máquinas os modernos possíveis, para a extração do minério. 

O parque de viagem é assombroso. JK subiu serra, desceu serra, foi às várias secções do tratamento do manganês, entrou em contato com o trabalhador do campo. 

Quis lhe conhecer a vida. Indagou-lhes quanto ganhavam. Todos mais do que o salario mínimo da região. O Coronel Janary Nunes dirigiu breves palavras àqueles anônimos obreiros. Visivelmente emocionado, com lágrimas nos olhos, disse que ali estava o Presidente da República. 

Vencendo todas as dificuldades, fizera aquele esforço para conhecer o manganês do Amapá, aplaudir o patriotismo do homem amapaense. 

Juscelino não menos emocionado, vendo os trabalhadores sujos, na sua faina honesta e diária, arrancando do solo tantas riquezas, exclamou patético: “Sois os bandeirantes da selva”. 

Quis apertar a mão de cada um. Mas estava diante de mais de uma centena. Chamou o de nome Antônio Campos de Carvalho, todo sujo, verdadeiro mascarado pela poeira preta do manganês. Abraçou-o. aquele cumprimento simbolizava o amplexo a todos os que trabalham no manganês. 

E quase às 19hs, o começo da viagem de regresso. Chegou a Macapá às 23hs. Tomou um banho. E foi para o jantar. Depois uma festa. Madrugada, deitou-se. 

Acordou cedo para, no domingo (06), tomar o avião, rumo a Belém (PA). Na ida às minas, Juscelino passou mal. Alimentou-se apenas de sanduiches, logo consumidas por ter oferecido o seu “rancho” para os jornalistas, logo acabaram-se os mantimentos. 

Depois fome, desaparecida com o jantar, altas horas. Houve colegas que reclamaram. O representante da U.P. adoeceu ligeiramente. Não suportou o castigo do sol.

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