Quatro naufrágios e um destino

Valas abertas no Cemitério de Santana, em 1981,
para receber as vítimas do barco "Novo Amapá"
Desde que foi criado em 1977, o Cemitério Municipal de Santana já abriga mais de 22 mil sepultamentos. Dos enterrados, milhares de histórias que as famílias chegam a contar sobre os últimos momentos vividos por seus entes e as causas que os levaram a deixarem deste mundo para outro “Universo”. 

Relatos que vão de afogamentos e passam por acidentes de trânsito, assim como também doenças terminais ou outros abalos fulminantes. 

Mas há um fato curioso que chega a chamar a atenção no Cemitério de Santana. Moradores que residem nas proximidades chamam o local de “Cemitério dos náufragos”, já que ali estão enterradas as vítimas de pelo menos quatro dos cinco naufrágios mais conhecidos que já aconteceram na história da navegação amapaense. 

“Novo Amapá”
O primeiro dos naufrágios – e o maior em número de vítimas – foi do barco-motor “Novo Amapá” em 06 de janeiro de 1981. A embarcação deixou o Porto de Santana com mais de 500 pessoas à bordo e uma tonelada de bagagem (entre malas, produtos e mercadorias), naufragando apenas oito horas após deixar o porto. 

Como o então Território Federal do Amapá não estava preparado para viver um dos momentos mais tristes de sua história, foi preciso embarcar todos os corpos dos mais de 340 vitimados e trazê-los de volta para Santana, sendo eles sepultados em seis (06) valas abertas no Cemitério da cidade. 

Estima-se que o Cemitério santanense tenha mais
de 600 náufragos ali enterrados.
A dimensão da tragédia foi tão grande que foram cinco longos dias de sepultamentos, envolvendo a construção rudimentar de mais de 80 caixotes de compensados para acomodar os corpos irreconhecíveis desses náufragos. 

“Cidade de Óbidos I”
Mais de duas décadas após o Amapá se erguer de um triste episódio, vem e acontece outro fato similar. 

Na madrugada do dia 26 de janeiro de 2002, ocorre o naufrágio do barco “Cidade de Óbidos I”, na região de Jarilândia (próximo ao município de Laranjal do Jarí), um dia após deixar o Porto de Santana, levando cerca de 200 pessoas, entre autoridades politicas e correligionários. 

O naufrágio foi em virtude de uma colisão entre o barco e uma balsa que estava encostada na beira do rio, o que não pôde ser visto com antecipação por ser noite, resultando em sete mortos. Dessas vítimas, cinco estão sepultadas no Cemitério de Santana. 

“Diamante Negro”
Em julho de 2011 foi a vez do naufrágio do barco “Diamante Negro”, quando este vinha da região do Pau Cavado (noroeste do Estado do Pará) e afundou quatro horas antes de chegar ao Porto de Santana. 

Dos 32 passageiros que viajavam no barco, cinco morreram, onde 04 seriam sepultados em Santana, por determinação de seus familiares, que na maioria, residia na cidade. 

Comandante “Reis I”
Após o encerramento do Círio Fluvial de Nossa Senhora de Aparecida, em outubro de 2013, o barco ribeirinho “Reis I” naufragou nas proximidades do Igarapé das Pedrinhas, quando retornava da capital amapaense para o município de Santana. 

Vala onde estão sepultadas as vítimas do naufrágio
do barco "Novo Amapá", ocorrido em 1981
Com cerca de 60 pessoas à bordo, deixou um saldo de 18 mortos, sendo que 12 foram sepultados no cemitério santanense, incluindo o comandante da embarcação. 

Outros náufragos
Segundo registros jornalísticos e dados de sepultamentos guardados na administração do Cemitério Municipal de Santana, estima-se que existam mais de 600 pessoas enterradas no local, vítima de naufrágios (de pequena e grande proporção) que ocorreram entre 1981 e 2015. 

“Tem aquele morador ribeirinho que atravessa o nosso porto para a Ilha de Santana numa catraia e de repente ela vira e o morador morre, isso já é considerado um naufrágio de pequena proporção, e aquela vítima é considerada um náufrago, apesar do motivo ter sido o afogamento”, explicou o carpinteiro naval Raimundo Sabino, que reside na área portuária de Santana, e já resgatou diversas pessoas que naufragaram nas águas do Rio Amazonas. 

Hoje sem condições de aceitar por novos enterros, somente aqueles que possuem jazigo familiar que ainda conseguem efetuar algum sepultamento no Cemitério de Santana, também popularmente conhecido como o “Cemitério dos Náufragos”.

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