O cemitério que virou bairro santanense

Entrada do bairro que seria um cemitério
Pode parecer um “conto de terror”, mas o fato realmente existe e chama bastante a atenção de vários moradores de outros bairros adjacentes: o surgimento de moradias que foram construídas dentro de um cemitério que posteriormente se tornaria mais um bairro no município de Santana (AP), a segunda maior cidade do Estado do Amapá. 

Com quase uma década de existência, o bairro Jardim Floresta somente ganhou denominação oficial da atual gestão municipal após um longo processo judicial iniciado em 2006, quando cerca de 80 famílias invadiram – naquela época – uma área que já estava reservada para servir de cemitério municipal, já que o único cemitério existente na cidade já se encontra superlotado, obedecendo apenas uma ordem do Executivo Municipal para efetuar apenas sepultamentos em jazigos titulados por entes familiares. 

Um novo Cemitério
Localizado numa região suburbana do município de Santana, o único (e mais viável) acesso ao bairro é através de um ramal aberto nas imediações da antiga Lixeira Pública da cidade, situada na Rodovia Duca Serra, tento como vizinho a abandonada Estrada de Ferro do Amapá. 

O surgimento dos primeiros casebres começaria realmente em outubro de 2005, quando a Prefeitura de Santana já estava concluindo a construção urbanística do novo cemitério da cidade, que ocuparia uma área de mais de 62.500m². Além do muro de proteção, a Prefeitura já havia iniciado a construção da Capela, do cruzeiro e do prédio administrativo do cemitério. 

Bairro vem recebendo posteamento adequado
“O novo cemitério é maior que o existente e está projetado para durar 20 anos”, garantiu na época o então secretário municipal de Desenvolvimento Urbano de Santana Francisco de Assis. 

Porém, durante os trabalhos de construção do novo logradouro, a Secretaria Estadual do Meio Ambiente (Sema) constatou que o novo cemitério santanense estava sendo erguido em cima de uma área onde atravessava um lençol freático (havia um trecho de ressaca nas proximidades), o que possivelmente comprometeria o acesso hídrico para os bairros mais próximos, incluindo as próprias moradias que já se formavam no local (por não haver um sistema interligado de captação de água, a alternativa mais viável seria a perfuração de poços artesianos), pondo em risco a saúde das pessoas que consumissem o referido líquido que atravessara o subsolo do cemitério. 

Vendo que o local não seria tão logo utilizado, um grupo de famílias “sem-teto” invadiria a área no começo do ano de 2006, carregando consigo a intenção de não saírem do logradouro até serem remanejados para um novo local. 

“Ninguém tinha para onde ir, e a Prefeitura não iria mesmo usar a área tão cedo mesmo”, disse o autônomo Marcos César que reside no local há quase oito anos, considerado um dos moradores mais antigos. 

Em menos de dois anos, já haviam mais de 200 famílias fixadas na área, originando um nome paralelo de outro bairro que já existira nas proximidades (como havia um bairro denominado Jardim de Deus, o novo conglomerado de moradias se chamaria Jardim Floresta, por está situado numa área extensa de matagal e árvores). 

Melhorias
Sem o mínimo de infraestrutura, o fornecimento precário de energia elétrica passou a ser estendida por dezenas de troncos e esteios levantados provisoriamente ao longo do único ramal terrestre que oferece acessibilidade ao bairro. 

“Somente no final do ano passado que a CEA (Companhia de Eletricidade do Amapá) começou a colocar um posteamento para nos atender, mas até agora não terminaram os serviços e a energia ainda é ruim para nós”, contou o autônomo Marcos César, sobre a implantação de energia elétrica no local, onde a concessionaria energética do Amapá ainda não concluiu os serviços de instalação e distribuição elétrica, fazendo com que os moradores ainda utilizem do serviço de maneira clandestina. “Dizem que vão concluir o serviço, mas não sabem quando”. 

Com tudo isso, o que seria um local destinado ao descanso dos mortos, atualmente abriga mais de 500 famílias que aguardam pela atenção das autoridades públicas que, segundo a doméstica Lindaura Pires, somente aparecem em período eleitoral. 

“No ano passado, veio tanto candidato a deputado estadual e federal por aqui, que prometeu construir até escola e praça antes de chegar o Carnaval desse ano, mas depois não voltaram mais por aqui”, disse a doméstica, que possui 03 filhos menores de 10 anos, que se deslocam diariamente para a escola mais próxima do bairro que há mais de 5km de distância, em virtude do novo bairro ainda não ter qualquer estabelecimento de ensino ou área de lazer.

Comentários