Hospital de Santana pode paralisar as atividades

Sem condições adequadas de trabalho, médicos e profissionais de saúde sofrem ameaças de agressão e morte dos pacientes e familiares.

Não bastassem as condições precárias de trabalho, agora ameaças de morte e agressão. Assim estão trabalhando os profissionais de saúde do Hospital de Santana. A sensação de insegurança é agravada pela falta de vigilantes no prédio há mais de um ano.

Frequentemente, os médicos sofrem ameaça de amigos e familiares dos pacientes que ficam internados, caso aconteça alguma coisa com eles, confirma o presidente do Sindicato de Médicos do Amapá (Sinmed), Fernando Nascimento. 

Mas a situação tornou-se insustentável depois que um paciente morreu de choque anafilático, no último dia 5. O médico e a enfermeira que o atenderam agora estão sofrendo ameaça por causa da morte do paciente. A intimidação se estende aos outros profissionais de saúde do Hospital, que denunciaram o fato ao Sindicato de Enfermagem e Trabalhadores de Saúde do Amapá (Sindesaúde) e Conselho Regional de Enfermagem do Amapá (Coren/AP). Assim como, as condições de trabalho dos médicos foram denunciadas ao Sinmed e ao Conselho Regional de Medicina (CRM/AP).

Diante da inércia do governo estadual por saber que a situação se arrasta há bastante tempo, uma manifestação está programada para amanhã (16) nas dependências do Hospital de Santana, a partir das 10h. Os médicos e os demais profissionais de saúde pretendem chamar atenção do poder público para que o problema seja resolvido. Se nenhuma providência for tomada, a única unidade hospitalar com atendimentos de média complexidade do município santanense pode parar com as atividades.

O Sindesaúde vai à delegacia registrar boletim de ocorrência e ao Ministério Público Estadual ofertar denúncia sobre o caso. “A partir disso, qualquer incidente, responsabilizaremos o governo. Mas espero que isso não aconteça”, adianta o presidente do Sindesaúde, Dorinaldo Malafaia. Após as denúncias do Hospital de Santana, duas reuniões já ocorreram entre os representantes das categorias e o governo estadual. Agora eles aguardam o cumprimento das promessas de resolução dos problemas.

Além do risco de roubo de recém-nascidos por causa da insegurança em Santana, o Sindicato de Médicos relata que a realidade não é diferente dos hospitais de Macapá, a exemplo da constante falta de medicamentos básicos como Dipirona, antibióticos e analgésicos. “O médico não consegue dar um atendimento adequado aos pacientes por causa das condições de trabalho”, diz o presidente do Sinmed Fernando Nascimento, se referindo também à ausência de material cirúrgico.

Caos anunciado
Além das unidades estaduais de saúde – que não possuem vigilantes porque a Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) não abriu nenhuma licitação para a contratação de empresa de vigilância – os demais órgãos do governo estadual podem ficar sem segurança nos próximos dias.

A categoria ameaça paralisar as atividades em protesto ao atraso de cinco meses de salário e indenizações não pagas pelas empresas de vigilância. Caso a Secretaria de Estado da Educação (Seed) não abra a licitação programada para o dia 27 de fevereiro, os vigilantes prometem entrar em greve. O Sindicato de Vigilantes do Estado do Amapá (Sindiviap) diz que não aceita mais contrato emergencial.

O prejuízo com a ausência desses profissionais já pôde ser visualizado no último dia 6, quando o Conselho Estadual de Saúde (CES) foi arrombado por assaltantes. Do prédio, levaram três televisores LCD de 32”, dois computadores completos, dois aparelhos de DVD, um estabilizador, além de um cheque de suprimento de fundo. Os seguranças foram retirados do prédio porque o contrato com a empresa não foi renovado.

Fragilidade dos hospitais públicos
O rapto de um bebê indígena da Maternidade Mãe Luzia em fevereiro de 2011 e o assassinato de um paciente num leito do Hospital de Emergências de Macapá (HE) em julho do mesmo ano, parecem não ter sido suficientes para que o governo estadual tomasse providências em melhorar a segurança dos hospitais amapaenses.

José Bruno da Silva Chucre, 19 anos, conhecido por Batatinhha, foi assassinado com seis tiros na madrugada do dia 16 de julho de 2011. Ele estava internado na enfermaria 3 no segundo andar do HE, onde estava internado há seis dias. Por volta de 2h, um homem se passou por médico, entrou no quarto e injetou uma dose letal de substância desconhecida na veia do jovem. Mesmo socorrido por médicos, ele morreu em 40 minutos.

No dia 10 de fevereiro de 2011, um bebê indígena foi raptado por volta de 15h30 da enfermaria da Maternidade Mãe Luzia. O recém-nascido estava acompanhado da mãe, Serinã Waiãpi, 31 anos, da aldeia Aramirá da tribo Waiãpi, do município de Serra do Navio. A raptora vestia jaleco do hospital e disse que levaria a criança para trocar de roupa e tomar vacina. O bebê foi reencontrado dez dias após o rapto, quando a Polícia Federal entrou no caso.

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